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INSTITUTO BUZIOS INFORME_241 ABRIL 2025
MÍDIA NEGRA E FEMINISTA
ANO XX – EDIÇÃO Nº241 – ABRIL 2025
Escravidão como genocídio: países africanos avançam em agenda de reparação
Chefes de estado e delegados na 38ª Cúpula da União Africana (UA) em Adis Abeba
Por Leandro Melito – O debate sobre a reparação histórica pelo período da escravidão ganhou espaço na discussão entre os líderes de países africanos durante o mês de fevereiro e resultou em um avanço significativo na última cúpula da União Africana (UA), que passou a classificar a escravidão, deportação e colonização como “crimes contra a humanidade e genocídio contra os povos da África”. A declaração inédita resultou de negociações durante a cúpula em Adis Abeba, capital da Etiópia, entre os 55 países representados pelo grupo multilateral, que ingressou no G20 em 2024. A União Africana designou 2025 como o “Ano da Justiça para Africanos e Povos de Ascendência Africana por meio de Reparações”, com o compromisso de abordar as injustiças históricas, incluindo o comércio transatlântico de escravos, o colonialismo, o apartheid e o genocídio. O objetivo é promover a unidade entre os países da UA e estabelecer mecanismos para a justiça reparatória em escala global. A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, adotada em 1981, em conferência de líderes africanos em Nairobi, no Quênia, estabelece como crimes contra os direitos humanos a escravidão e o tráfico de pessoas. O marco na discussão sobre as reparações em relação a esses crimes foi a Proclamação de Abuja sobre Reparações documento final da primeira Conferência Pan-Africana sobre Reparações, em Abuja, Nigéria, em 1993. Primeira posição comum tomada pela liderança política da África, a Proclamação serviu como um catalisador para a organização dos movimentos de reparação. Leia a matéria completa. Fonte: Brasil de Fato.
Opinião | O curupira e o cancelamento
Por Paulo Roberto Pires – O que viceja no Bananão sob o rótulo “identitarismo” é hoje o principal trunfo retórico do liberal curupira. Como a criatura de pés virados para trás, este personagem cada vez mais destacado nas análises de política e cultura vive do despiste: diz que vai para o centro, lugar imaginário de moderação e imparcialidade, enquanto caminha para a direita. Para o intelectual curupira, os princípios “identitários” configuram grave malversação do debate público, sobretudo nas altercações digitais conhecidas como “cancelamento”. Por motivos óbvios, os curupiras, nascidos para o despiste, abjuram tomadas de posição inequívocas, que desqualificam como sectarismo e radicalização. Os discursos de emancipação, de combate a preconceitos e busca por diversidade são então rejeitados em bloco pelos ‘bem pensantes’ como autoritarismo, censura, puritanismo. Reaças de todas as plumagens se diziam “politicamente incorretos” para afetar independência — raciocínio perverso que volta, potencializado, quando se denuncia como intolerância o combate à intolerância. A dinâmica nos é muito familiar. Na indignação com fins lucrativos dos curupiras, antirracismo é denunciado como racismo “reverso”, denúncias de assédio são desqualificadas com a suspeição da vítima ou, por exemplo, atribui-se ao uso da linguagem inclusiva o poder desmedido e fantasioso de corroer uma língua. O que apregoam como um diálogo amplo e franco passa, necessariamente, pela sujeição de oprimidos a opressores em nome do apagamento de violências fundadoras da sociedade brasileira. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Revista Quatro Cinco Um.
Dowbor: Eis a nova estrutura do poder global
Por Ladislau Dowbor | Tradução: Antonio Martins – A crise financeira global de 2007, que levou o ETH, o principal instituto público de pesquisa suíço, a apresentar em 2011 o primeiro estudo abrangente sobre a rede de controle corporativo global2. Os resultados foram impressionantes: 737 corporações controlam 80% do mundo corporativo global. Destas, 147 controlam 40% — e 70% delas são instituições financeiras. Este é o topo da pirâmide: basicamente, gestão de dinheiro. O governador do Banco da Inglaterra comentou à época que o estudo mudava nossa visão sobre como a economia funciona. Os autores da pesquisa afirmavam no artigo: não havia como evitar a constatação de que estávamos diante do “clube dos ricos”. Igualmente impressionante é o fato, destacado por eles, de que este foi o primeiro estudo global sobre o poder corporativo, embora o processo de sua formação estivesse em andamento por décadas. Em Titans of Capital (2024), Peter Phillips nos traz o panorama geral do sistema de governança global. “Os 0,05% mais ricos do mundo são 40 milhões de pessoas, incluindo mais de 36 milhões de milionários e 2.600 bilionários, que repassam seu capital excedente para empresas de gestão de investimentos como BlackRock e JP Morgan Chase. As dez maiores entre estas empresas controlavam juntas cerca de 50 trilhões de dólarse em 2023. Essas empresas são gerenciadas pelas 117 pessoas. Os 117 Titãs decidem como e onde o capital global será investido. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Outras Palavras.
Todas as formas de violência contra meninas e mulheres cresceram no Brasil
Em sua quinta edição, a pesquisa “Visível e Invisível: Vitimização de Meninas e Mulheres” traz dados inéditos sobre as distintas formas de violência contra meninas e mulheres brasileiras experienciadas nos últimos 12 meses. O levantamento, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, constatou que todas as formas de violência apresentaram crescimento acentuado em relação aos anos anteriores. Os dados indicam que 37,5% das mulheres vivenciaram alguma situação de violência no último ano, a maior prevalência já identificada. Significa, em números absolutos, que ao menos 21,4 milhões de brasileiras foram vítimas de violência nesse período. As mulheres vitimadas relataram, em média, mais de três tipos diferentes de violência, evidenciando a complexidade e a recorrência das agressões enfrentadas. Leia a matéria completa. Fonte: Gife.
O Brasil no banco dos réus: Como o julgamento de figuras centrais de poder no país redefinirá a nossa democracia
Por Isabela Kalil – Em 26 de março, os ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitaram por unanimidade a denúncia feita pela Procuradoria Geral da República e tornou réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete de sua cúpula governamental, entre eles, militares de alta patente, ex-ministros e representantes das áreas de inteligência e segurança do governo. É a primeira vez que militares de alta patente são julgados pela Justiça comum no Brasil, mesmo após terem praticado diversos crimes durante a ditadura militar. E é também a primeira vez um ex-presidente é colocado no banco dos réus por crimes contra a ordem democrática. O julgamento, que segue agora para a fase de instrução, não representa apenas uma resposta ao passado recente, mas um teste institucional de longo prazo: sobre como o Brasil lida com tentativas de rupturas democráticas e sobre o futuro das relações entre civis e militares no país. O que está em jogo é a capacidade da democracia brasileira de reagir a ameaças, de responsabilizar quem atenta contra suas instituições, e de romper com um ciclo histórico de impunidade, especialmente dos militares. Leia o artigo na íntegra. Fonte: The Conversation Brasil.
A esquerda e uma mídia que competitiva que vença a batalha das ideias
Por Anthony Nadler e Reece Peck | Tradução: Pedro Silva – O sucesso crescente da direita com os eleitores da classe trabalhadora não foi conquistado com artigos sobre política ou think tanks; foi construído por meio de uma mídia que fala a mesma língua. Se a esquerda quer ser competitiva, precisa construir um ecossistema midiático mais contundente e abrangente. Na eleição de 2024, Donald Trump empunhou mais um meio de comunicação de massa que os conservadores conseguiram conquistar: podcasts e vídeos na internet. A impetuosa “estratégia de mídia alternativa” de Trump sobrepujou Kamala Harris e a estratégia dos democratas, impulsionando o criminoso condenado e duas vezes acusado, de volta à Casa Branca. Muitos na esquerda há muito romantizam a política nas ruas, mas nenhuma quantidade de batidas de porta em porta pode se igualar ao alcance dos influenciadores conservadores que constroem laços parassociais com os vizinhos e fornecem a eles, a cada dia, histórias poderosas que dão sentido à vida política. É hora de encarar a realidade da força da mídia conservadora e a necessidade de construir um contrapoder da mídia de esquerda. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Jacobin Brasil.
Quatro batalhas para a esquerda virar o jogo
Por Josué Medeiros – O ano de 2025 é decisivo para a continuidade da democracia brasileira. Em 2024, o bolsonarismo se reorganizou nas eleições municipais e empurrou o governo Lula para a defensiva, aproveitando sua crise de popularidade. O segredo dessa retomada está na mobilização da base mais radical, que depois se expande para setores moderados. Lula pode, em ano decisivo, mobilizar o sentimento contra a extrema-direita, como faz Sheinbaum no México. É preciso mobilizar a sociedade não apenas em defesa de uma democracia institucional, mas em favor de uma democracia substantiva que de fato melhore a vida do povo. E algumas pautas têm um enorme potencial de gerar mobilizações que impulsionem o campo progressista e tirem o governo da defensiva. Possíveis focos da virada: combater a alta dos alimentos, regular as redes e apoiar o fim da escala 6×1. É preciso fazer uma campanha de massas pela taxação dos ricos e pela isenção do Imposto de Renda de quem ganha até 5 mil reais, de modo conectado com a pauta da comida no prato do povo. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Carta Capital.
Rosa Luxemburgo e a reinvenção da política
Por Marcio Sales Saraiva – Hernán Ouviña nos oferece uma leitura contemporânea da trajetória e do pensamento de Rosa Luxemburgo (1871-1919), destacando sua relevância para as lutas políticas do nosso século. Rosa Luxemburgo e a reinvenção da política não apenas revisita os escritos e a militância da revolucionária polonesa-alemã, mas também propõe um diálogo entre sua teoria e as lutas sociais do presente, especialmente em nossa América Latina. No cenário imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial, quando o pensamento de esquerda era dominado pelo stalinismo, a divulgação do ideário socialista democrático, popular e antiburocrático de Rosa Luxemburgo tinha o fito de criar uma nova esquerda, humanista e independente, tanto da social-democracia quanto do stalinismo”. Desde o início do livro, Hernán Ouviña já estabelece seu compromisso em apresentar uma Rosa Luxemburgo para além dos clichês acadêmicos, enfatizando sua “radicalidade insurgente e sua aposta em um socialismo democrático e de massas”. O autor argumenta que o pensamento de Rosa Luxemburgo se distingue tanto do marxismo ortodoxo – especialmente em sua versão dogmática, autointitulada “marxismo-leninismo” – quanto das vertentes reformistas, nacionalistas e eleitoreiras da social-democracia, sendo marcado por uma visão dialética da política, que valoriza a ação autônoma das massas. Um dos aspectos mais inovadores da obra de Hernán Ouviña é a maneira como ele articula o pensamento de Rosa Luxemburgo com a necessidade de reinventar a política no século XXI. Leia a resenha na íntegra. Fonte: A Terra É Redonda.
Do romance aos quadrinhos: Os 50 anos de “Os tambores de São Luís”
Por Iramir Araujo – Clássico de Josué Montello veste nova roupagem roteirizada pelo historiador e roteirista Iramir Alves Araujo. Se há alguém de quem se pode falar que viveu muitas vidas, esse alguém foi Josué de Sousa Montello (São Luís, 1917 — Rio de Janeiro, 2006). E não apenas pelas inúmeras profissões e cargos que exerceu: de jornalista, teatrólogo, professor, reitor, diretor da Biblioteca Nacional, do Museu da República, do Serviço Nacional do Teatro, diretor do Museu Histórico Nacional. Foi conselheiro cultural da Embaixada do Brasil em Paris, e embaixador do Brasil junto à Unesco; presidente da Academia Brasileira de Letras e membro de academias e instituições culturais no Brasil e no Exterior. No campo da imaginação, das narrativas, da meticulosa pesquisa histórica articulada à composição romanesca, foi que Josué Montello gravou seu nome no mundo das letras. E dentre seus 26 romances, há um que se destaca: “Os tambores de São Luís”. De suas quase 500 páginas emergem várias histórias vividas por uma miríade de personagens. Uma narrativa que atravessa toda a existência do personagem Damião, um negro que, de criança, livre no quilombo criado por seu pai, é capturado após a destruição do mundo que ele conhecia pela milícia mandada pelo dono da fazenda de onde fugiu com sua família, e para onde são levados de volta, até o ancião octogenário. Essa obra paradigmática, lançada em 1975, completa neste ano a marca de 50 anos, ainda viva, ainda relevante. Ainda sendo objeto de estudos, de discussões, de adaptações. Neste ano do cinquentenário é lançada a adaptação para as histórias em quadrinhos feita por mim, Iramir Alves Araujo, historiador e escritor e ilustrada pelos artistas Rom Freire e Ronilson Freire. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Aventuras na História.
EXPEDIENTE
MÍDIA NEGRA E FEMINISTA
Boletim Eletrônico Nacional
Periodicidade: Mensal
EDITOR
Valdisio Fernandes
EQUIPE
Allan Oliveira, Ana Santos, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Davino Nascimento, Denilson Oliveira, Enoque Matos, Flávio Passos, Glauber Santos, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Jeane Andrade, Josy Andrade, Josy Azeviche, Leila Xavier, Luan Thambo, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Patricia Jesus, Ronaldo Oliveira, Roselir Baptista, Silvanei Oliveira, Tamiris Rizzo.