Boletim Mensal do Instituto Búzios – Mídia Negra e Feminista

 

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INSTITUTO BUZIOS INFORME_232 JULHO 2024

MÍDIA NEGRA E FEMINISTA

ANO XX – EDIÇÃO Nº232 – JULHO 2024

Abjeção: a construção histórica do racismo

Por Patricia Fachin | Entrevista Berenice Bento – Para a pesquisadora, “a questão racial e negra é estrutural e estruturante do Brasil. O que somos passa por aí e não poderia ser diferente, pois não estamos falando de uma experiência histórica que durou 40 anos, mas de uma experiência que durou quase 400 anos”. Entre os séculos XVI e XIX chegaram cerca de sete milhões de africanos escravizados traficados pelos portugueses. Essa matriz africana está no cerne da construção da sociedade brasileira, mas também no racismo estrutural que se forjou o país. Esta pauta foi muitas vezes apagada e esquecida pela ciência, que “não está acima das classes, das raças e dos gêneros”, coloca Berenice Bento. E foi a partir da “demanda pela presença e pela visibilidade do pensamento negro” nas universidades que a professora se debruçou nos últimos seis anos a uma vasta pesquisa histórica que culminou no livro Abjeção: a construção histórica do racismo (Cult Editora: 2024). Ao recorrer à historiografia, Berenice avaliou a herança colonial escravocrata e observou seus efeitos na contemporaneidade tendo o conceito de abjeção com fio condutor. A autora procurou apontar as linhas de continuidade entre passado e presente. Berenice Bento é professora associada do Departamento de Sociologia/UnB e pesquisadora 1C do CNPq. Graduada em Ciências Sociais pela UFG (1994), é mestre em Sociologia pela UnB (1998), doutora em Sociologia pela UnB /Universitat de Barcelona (2003) e pós-doutora pela City University of New York (2014). Leia a entrevista na íntegra. Fonte: Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Foto: Canal Apaixonados por História.

África o berço da humanidade

Foi no continente africano onde nasceram/surgiram/foram criados os primeiros ancestrais (homens) e as primeiras ancestrais (mulheres) que vivem no planeta terra. Nos estudos históricos, considera-se a civilização humana um atributo quase exclusivo do Ocidente. Até há pouco tempo, a ideia de que o ser humano original fosse negro e africano soava entre ridícula e absurda. Ao longo de séculos, a ciência ocidental construiu uma série de teses que supostamente comprovavam que os africanos eram criaturas inferiores e incapazes de criar civilizações. Pesquisas mais recente vêm confirmando não apenas que a humanidade nasceu na África, como também que os negros africanos estão entre os primeiros a construir civilizações humanas e erigiram as bases da própria civilização ocidental. Brenna Henn, geneticista de populações da Universidade da Califórnia, Davis, destaca que entender por que H. sapiens surgiu na África exige examinar o processo evolutivo da espécie. Em 1987, um estudo na Nature rastreava o DNA mitocondrial humano moderno a uma população africana que viveu entre 200.000 e 150.000 anos atrás. No entanto, a pesquisadora e outros cientistas contestam a ideia de uma origem única. Nossos ancestrais estavam dispersos em várias populações especializadas em toda a África, um continente com ecossistemas diversificados que exigiam adaptações específicas. Em 2023, um estudo liderado por Brenna Henn, publicado na Nature, propõe que duas dessas populações contribuíram para a emergência de H. sapiens. Esses grupos acabaram se misturando, formando uma população ancestral comum. Leia a matéria completa. Fonte: Revista Piauí e Nature.

Mobilização feminista contra PL do Estuprador mostra esquerda eficiente

Artigos de Ana Pimentel e José Dirceu – O Brasil assistiu, nas últimas semanas, a uma poderosa demonstração de força e unidade das mulheres em defesa dos seus direitos. Os protestos contra o inconstitucional e misógino PL do Estuprador podem ser o início de uma reação organizada contra o avanço das pautas conservadoras e de extrema-direita no país. A indignação dos movimentos feministas e de todos os democratas e defensores dos direitos humanos contra o PL 1904/2024 é mais do que justificada. A decisão do colégio de líderes e do presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, de aprovar, no dia 13, a votação em regime de urgência do PL 1904/2024, chamado de PL do Estuprador ou PL da Gravidez Infantil – uma proposta que pune com prisão de seis a 20 anos a vítima de estupro que tentar abortar além da 22a semana de gestação – pode, quem sabe, ser o estopim de uma reação da sociedade contra o retrocesso que vem sendo pautado pelo Congresso e o avanço da extrema-direita no país. No dia seguinte à chincana do Parlamento, as ruas de várias capitais do país foram tomadas por protestos de mulheres e homens contra o PL do Estuprador e contra o presidente da Câmara, movimento que se repetiu no final de semana em muitas cidades. Após intensa pressão popular e mobilização em massa, conseguimos um recuo significativo no andamento do Projeto de Lei 1904/2023, o PL do Estupro, que culpabiliza mulheres e meninas vítimas de violência sexual. Leia os artigos na íntegra. Fonte: Carta Capital e Opera Mundi.

O “PL do estupro” – ou por que as marxistas feministas vão seguir falando sobre aborto

Por Beatriz Rodrigues Sanchez, Bruna Della Torre, Carolina Peters, Carolina Soares, Daniela Costanzo, Isabella Meucci, Mariana Amaral e Larissa Vannucci – A Coletiva Marxismo Feminista analisa as origens do “PL do estupro”, os desdobramentos da proposta e as possíveis consequências de sua aprovação, travando um debate mais amplo sobre o lugar da pauta feminista no horizonte político da esquerda. O Projeto de Lei nº 1904/24, que se popularizou como “PL do estupro” ou “PL da gravidez infantil”, provocou grande repercussão midiática e nas redes sociais nas últimas semanas. Isso porque o projeto é um ataque brutal à dignidade de crianças, mulheres e pessoas que gestam vítimas de violência sexual. A proposta em questão consiste em equiparar qualquer aborto realizado após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio – um dos mais graves em nosso contexto político-criminal –, na prática, retrocedendo nas prerrogativas de aborto legal previstas desde 1940 e transformando as vítimas de violência sexual em assassinas. Em outras palavras, às pessoas violentadas restariam duas opções de acordo com o PL 1904/24: a gravidez compulsória de seu estuprador ou uma pena de prisão que pode chegar até 20 anos. Em 12 de junho de 2024, a Câmara dos Deputados aprovou o requerimento de regime de urgência para a tramitação do PL 1904/24, o que significa que o texto não precisará passar pela apreciação das comissões, podendo ser levado diretamente a votação em plenário. Chama a atenção que o governo Lula só se manifestou em relação ao projeto depois de ver uma reação contrária enorme na sociedade, o que evidencia que o conservadorismo em relação aos direitos das mulheres não está presente apenas na direita. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Boitempo.

Rui Tavares: esquerda precisa mobilizar desejo contra o medo

Em debate com o cientista político Sergio Fausto, o historiador português diz que a sociedade precisa de um discurso que transcenda o temor manipulado pela extrema direita. Num mundo de incertezas quanto ao futuro, em que a extrema direita tem conquistado espaço em várias partes do mundo, é preciso que forças democráticas apresentem propostas que mobilizem o desejo no lugar do medo. Foi o que defendeu Rui Tavares, historiador e político português, na mesa ‘Esquerda e Direita sem Extremos’, no dia 29 de junho na programação da Feira do Livro 2024, uma realização da Associação Quatro Cinco Um. “A gente tem de convencer as pessoas a não ter medo. Os progressistas em geral perderam essa capacidade”, disse Tavares, que está lançando, pela Tinta-da-China Brasil, selo editorial da Associação Quatro Cinco Um, Esquerda e direita: guia histórico para o século XXI. Tavares também ressaltou a importância de superar posições que não deveriam ser contrárias dentro da própria esquerda, como as que opõem grupos que defendem uma política identitária e os que querem priorizar a luta de classes. “A questão da identidade nunca pode ser uma questão menor. A esquerda que fala isso está errada. O cientista político Sergio Fausto lembrou de outros temas mobilizados pela extrema direita nos últimos anos no país, como uma visão mais fundamentalista do cristianismo – “um dos gatilhos do pânico moral” –, segurança pública e as próprias pautas identitárias. O cientista político, no entanto, disse ver uma ponta de esperança na reação ao projeto de lei que tentou equiparar as penas para quem fizer aborto ao homicídio. Leia a matéria completa. Fonte: Quatro Cinco Um. Foto: Filipe Redondo.

Estudos sobre raça e eleição

Por Wescrey Portes – Os espaços de representação política no Brasil são dominados por homens brancos das classes sociais mais altas, enquanto negros e negras, que constituem a maioria da nossa população, estão sub-representados. Reflexões sobre os limites da democracia brasileira e sua incapacidade de englobar grupos marginalizados têm ganhado espaço na opinião pública, nos movimentos sociais e, especialmente, no debate acadêmico. Embora o tema tenha penetrado o debate público, a produção acadêmica sobre a relação entre raça e eleições ainda é incipiente, dificultando a identificação dos principais determinantes da sub-representação e das barreiras enfrentadas pelas candidaturas negras na competição eleitoral. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Nexo.

Opinião | Os dois lados do Congresso Nacional Africano

Por Niall Reddy | Tradução: Priscilla Marques – Após perder a maioria parlamentar pela primeira vez, o Congresso Nacional Africano da África do Sul está se esforçando para formar um governo de coalizão – e suas opções são sombrias. A política durante o apartheid tinha uma certa simplicidade linear. Sempre era bastante nítido quem era o principal inimigo. As coisas se embaralharam com a democratização. Mas uma certa medida logo foi restabelecida — pelo menos para a esquerda outsider. Um bloco hegemônico neoliberal se formou no cume do poder, unindo as antigas elites empresariais brancas a uma emergente “burguesia negra corporativa”, como disse Roger Southall. As linhas de batalha estavam nítidas mais uma vez. Essa era terminou em algum momento por volta de 2014, durante o governo de Jacob Zuma. Alimentada pela economia corporativa, uma nova elite rival fez sentir sua presença plena nesse período. Ela assumiu o comando de um conjunto mais amplo de forças nascidas das “economias informais” do estado de patronagem do Congresso Nacional Africano (ANC) e estiveram comprometidas com uma forma mais robusta de redistribuição racial, sem pretensões progressistas. Com a derrota de Zuma no congresso nacional do ANC em 2017, as forças da “transformação econômica radical” (RET) foram brevemente repelidas. Mas elas ressurgiram com força total no mês passado, quando o novo partido uMkhonto weSizwe (MK) de Zuma ganhou 14,6% dos votos nas eleições nacionais, negando ao ANC sua maioria eleitoral pela primeira vez desde a democracia. Combinados com os Combatentes pela Liberdade Econômica (EFF), partidos dedicados ao RET ocuparam cerca de um quarto das cadeiras no novo parlamento. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Jacobin Brasil.

“O patriarcado é um juiz”. Processada por comentar o caso Mari Ferrer

Por Simone Nascimento – O grito por Justiça para Mariana Ferrer foi para todas as vítimas. A absolvição no caso de Mariana, um ataque a todas nós. Os processos contra quem se posicionou são inadmissíveis. Em 2020 fui uma das milhares de vozes, nas ruas e na internet, que pediram justiça para a jovem Mari Ferrer. Na época, utilizei as redes sociais e coluna na Mídia Ninja para me posicionar contra a cultura do estupro que estava em debate na sociedade, para dizer o que deveria ser óbvio: O Brasil só faz de conta que não entende, mas estupro não é sobre sexo, é sobre poder! Hoje, torno público que fui processada, anos depois, por na época criticar a cultura de culpabilização das vítimas de estupro, algo que está além da sentença em questão. Esse debate foi levantado no caso Mari Ferrer quando foram amplamente divulgadas críticas à sentença que absolveu o réu. Essas críticas reacenderam discussões sobre o peso da palavra da vítima e resultaram em milhares de manifestações defendendo o peso dela e a desnaturalização da cultura do estupro. Mas não fui a única processada, o juiz do caso Mari Ferrer ajuizou 175 ações de danos materiais e morais (informação pública que pode ser confirmada no site do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina), todas idênticas e com o mesmo pedido: indenização por danos morais, em decorrência de publicações na internet sobre o caso. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Mídia Ninja.

Chris Hedges: Quem salvou Julian Assange?

Por Chris Hedges – Após 14 anos, Assange será libertado. Devemos homenagear as centenas de milhares de pessoas em todo o mundo que fizeram isto acontecer. A liberdade não veio do tribunal – pois justiça e verdade são irrelevantes ao Estado corporativo – mas das mobilizações que nunca se apagaram. Elas ensinam que, em tempos obscuros, as ruas e a desobediência civil são nossa única esperança. A maquinaria obscura do império, cuja falsidade e selvageria Julian Assange expôs ao mundo, passou 14 anos tentando destruí-lo. Eles cortaram seu financiamento, cancelaram suas contas bancárias e cartões de crédito. Eles inventaram acusações falsas de agressão sexual para extraditá-lo para a Suécia, de onde seria enviado para os EUA. Eles o prenderam na Embaixada do Equador em Londres por sete anos depois que ele recebeu asilo político e cidadania equatoriana, recusando-lhe passagem segura para o aeroporto de Heathrow. Orquestraram uma mudança de governo no Equador que o privou do seu asilo, assediado e humilhado por um grande número de funcionários da embaixada. Eles contrataram a empresa de segurança espanhola UC global na embaixada para gravar todas as suas conversas, inclusive aquelas com seus advogados. A CIA discutiu o sequestro ou assassinato dele. Eles providenciaram para que a Polícia Metropolitana de Londres invadisse a embaixada – território soberano do Equador – e o prendesse. Eles o mantiveram por cinco anos na prisão de alta segurança HM Belmarsh, muitas vezes em confinamento solitário. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Jornal GGN.

Por quê e como abolir os super ricos

Por Ladislau Dowbor – Resenha de: Against Inequality: The Practical and Ethical Case for Abolishing the Superrich de Tom Malleson, Oxford Academic. Raramente a questão da desigualdade, o principal desafio da humanidade junto com a catástrofe ambiental, foi trabalhada de maneira tão clara e detalhada. Malleson apresenta os dados da desigualdade, sua progressão, como se cruza com os mecanismos de mercado, como podem funcionar os mecanismos tributários para enfrentar a desigualdade de renda e de riqueza, quais são os custos e benefícios das medidas. Em particular, desmonta a farsa do “merecimento” dos mais ricos, ao mostrar, do lado dos mecanismos econômicos, que se trata de comportamentos que travam e deformam o desenvolvimento, e do lado da ética e da justiça, que se deve respeitar o valor do ser humano como tal, e assegurar o básico que lhe permita viver com dignidade. Argumento fundamental: o que produzimos é hoje amplamente suficiente para assegurar condições de conforto econômico para todos. Leia a resenha na íntegra. Fonte: Outras Palavras.

EXPEDIENTE

MÍDIA NEGRA E FEMINISTA

Boletim Eletrônico Nacional

Periodicidade: Mensal

EDITOR

Valdisio Fernandes

EQUIPE

Allan Oliveira, Aline Alsan, Ana Santos, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Denilson Oliveira, Enoque Matos, Glauber Santos, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Keu Sousa, Jeane Andrade, Josy Andrade, Josy Azeviche, Leila Xavier, Luan Thambo, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Patricia Jesus, Ronaldo Oliveira, Roselir Baptista, Silvanei Oliveira, Tamiris Rizzo.

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