Por Ana Beatriz Rocha

Mais de 130 anos após abolição, escravidão ainda mostra sua face através dos presídios brasileiros. No cotidiano costumamos enxergar cruamente o sistema penal. O teor punitivista do modo como a segurança pública é orquestrada, onde os corpos encarcerados não são vistos de forma humanizada por parte da sociedade, naturaliza os alarmantes dados do Brasil. Mais da metade dos presos são jovens de 18 a 29 anos, e 64% são negros. As reflexões têm muito dos ensinamentos de Ana Luiza Pinheiro Flauzina, doutora em Direito. Minha xará retratou em sua obra Corpo Negro Caído no Chão análises, embasadas na criminologia, sobre o racismo presente na gênese do sistema penal, e como isso se tornou um projeto de genocídio do Estado brasileiro. A autora traz à tona a noção de status de criminoso, que nada mais é que uma etiqueta posta pelo empreendimento penal em determinados grupos sociais, onde através deste status será escolhido quem iremos criminalizar ou não. No Brasil, os crimes contra o capital são os mais punidos, impondo um recorte nítido de classe ao empreendimento penal. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Medium.

Coalizão Negra por Direitos divulga Carta Programa e mensagem em vídeo ao povo brasileiro

A Carta Programa traz 14 princípios e 25 reivindicações e exigências que representam o conjunto de pautas dessa ampla articulação. Foi construída durante o 1º Seminário Internacional da Coalizão Negra por Direitos, realizado em novembro na cidade de São Paulo. O seminário reuniu representantes de mais de 100 organizações do movimento negro de 20 estados brasileiros e lideranças de grupos da Colômbia, África do Sul, Equador, Reino Unido, Togo e Estados Unidos – inclusive uma comitiva de 14 integrantes do Black Lives Matter. A Carta prevê um calendário de ações e está prevista ainda uma grande manifestação de movimentos negros em Brasília, no primeiro semestre de 2020, tendo como alvos o Congresso Nacional e o palácio do Planalto. Leia a Carta Proposta da Coalizão Negra Por Direitos na íntegra. Fonte: Instituto Búzios.

Democracia, reforma política e a dimensão racial e de gênero: qual o caminho possível?”

Por Rosane Borges – Os tempos avançam sombrios sobre o Brasil. Na avaliação da jornalista e doutora em Ciências da Comunicação Rosane Borges, o casamento do liberalismo econômico com o conservadorismo reacionário tem no atual governo seu filho legítimo. Suas raízes, no entanto, estão cravadas na história da escravidão e do patriarcado. É o que nos indica a pesquisadora nesse artigo. nossa bandeira atual não é mais pelo aperfeiçoamento da democracia (que, aliás, nunca chegou para os habitantes das franjas deste país), mas sim pela recuperação dos marcos democráticos, uma vez que o estado de exceção tornou-se a forma de governo desde o golpe de 2016. Para Rosane, o momento atual evidencia a ausência de um acerto de contas com a história. “A repetição, o recalcado, ocorre quando faíscas do passado soterrado podem ser identificadas nas malhas do presente. Como a espada de Dâmocles, trejeitos da ditadura militar retornam, ainda segundo essa visão, colocando em cena a ameaça do auto golpe. Mulheres e homens negros dão consistência a esse argumento enfatizando que a espada que se levanta contra o nosso pescoço tem uma extensão que alcança a escravidão e o patriarcado”. Neste artigo, a professora Rosane não indica portos seguros, mas aponta rotas fundamentais: precisaremos voltar algumas casas no jogo e reconhecer as mulheres negras como protagonistas na criação de um novo pacto civilizatório. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Plataforma Pela Reforma do Sistema Político.

Estudo do Ipea revela que população negra e de baixa renda tem menos acesso a oportunidades de trabalho, saúde e educação

População negra e de baixa renda tem menos acesso a oportunidades de trabalho, saúde e educação. Levantamento foi realizado nas 20 maiores cidades brasileiras. Os meios de transporte interferem, diretamente, no acesso a oportunidades de empregos, serviços de saúde e educação, contribuindo para a desigualdade. Um retrato deste cenário nas maiores cidades brasileiras foi apresentado na quinta-feira, 16 de janeiro de 2020, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). São Paulo é a cidade mais desigual no acesso a emprego entre 20 municípios pesquisados, a desigualdade social não atinge apenas a renda, mas também o acesso a oportunidade de trabalho, saúde e educação. A realidade de São Paulo é a mesma encontrada em outras cidades brasileiras analisadas. Além da maior metrópole do país, Belo Horizonte, Campo Grande, Goiânia e Porto Alegre completam a lista das cidades com maior desigualdade de acesso a trabalho no Brasil. O Rio de Janeiro ocupa a 15ª posição da lista, com os 10% mais ricos tendo o dobro de acesso a emprego do que os 40% mais pobres. Os Jovens foram os que mais perderam renda desde 2014, queda foi de 17%. Leia o artigo na íntegra. Fonte: IPEA.

Os desafios de emancipação da população afro-brasileira: mestiçagem, interculturalidade e corporeidades

Por Nestor Gomes Mora Cortés e Laís Salgueiro – Apresentamos as ambivalências do estereótipo “mestiço” e sua relação com a formação do Estado brasileiro. Em seguida, discutimos os desafios da população afro-brasileira em se emancipar dos mecanismos de poder que limitam o seu reconhecimento, enclausurando o negro no “outro” racializado. Por último, pensamos a performance e corporeidade como artifícios e caminhos criativos da sua produção política. De que modo a mestiçagem contribui para distorcer e amenizar as alteridades ou conflitos interraciais e, em último caso, negar o próprio racismo? A partir daí, como definir uma estratégia crítica ao discurso da mestiçagem na condição de unidade étnica reproduzida pelo povo bra-sileiro? Da mesma forma, como as múltiplas frentes políticas e culturais que se articulam em si e entre si devem atuar na revalorização e afirmação da negritude brasileira frente aos diversos desafios sociais, econômicos e políticos constitutivos da sociedade? Por último, como as resistências negras locais ou “periféricas”, considerando também suas expressões estéticas, performáticas e subjetivas, asseguram suas fronteiras identitárias conquistando reconhecimento? Antes de tentar responder objetivamente a esses questionamentos, devemos compreender a construção do estereótipo “mestiço” e das suas ambivalências, capazes de modelar a estrutura social brasileira. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Acervo Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v. 33, n. 1, jan./abr. 2020.

Afrobeges ou o colorismo que refuta a lógica racista

Por Laila Oliveira – Aqui na terra da democracia racial, se vendia a ideia de quanto mais claro e mais distante dos/das negros/as africanos/as, maior a possibilidade de ascensão e aceitação social. O processo de pardonização encontrou no Brasil raízes fortes, com direito a estudo encomendado pela UNESCO, e diversos estudiosos das ciências sociais vindos dos EUA. No Brasil essa escola também foi forte, é só nos voltarmos para os estudos de Gilberto Freire, que deixou para a população negra uma herança de estereótipos quase inabaláveis e acionados até os dias atuais. Diante dessa investida secular, ao longo dos anos, o movimento negro atuou no intuito de incentivar o orgulho de ser negro/a, sendo assim, de romper com a ideia do clareamento e de fomentar uma unidade entre negros, reconhecendo a diversidade de tons e traços. Não foi e não é um caminho fácil, existe uma conveniência ou afroconveniência para alguns em estar nas fronteiras desse reconhecimento, seja por má fé para ter acesso às políticas afirmativas como as cotas em concursos e universidades, ou seja pela própria confusão de não saber o que se é, até porque a atravessia pode ser um caminho sem volta, outros ainda não se olham no espelho, preferem não tomar pra si o que se é também por medo. Quantos/as de nós nos olhamos verdadeiramente no espelho? Leia o artigo na íntegra. Fonte: Blogueiras Negras.

A Luta de Classes e a Escravidão Racial: A Invenção da Raça Branca

Por Theodore W. Allen, traduzido por Bruno Santana – No período que antecede a Guerra Civil, um dos argumentos correntes para a escravidão racial, era de que esta tornou possível um sistema de controle social praticamente hermético. A situação permeada de conflitos e ‘sistemas’ das sociedades assalariadas na Europa, surge em contraste com a longa tradição de paz social no Sul, onde, a despeito de ressentimentos internos, a vasta maioria dos brancos pobres se aliaria com os escravos em qualquer confronto entre a força de trabalho negra e a burguesia latifundiária. As altas cortes da Carolina do Sul entenderam bem que “a paz social(…) requeria que escravos fossem sujeitos à autoridade e controle de todos os homens livres quando não à imediata autoridade de seus senhores”; ali onde “um escravo não pode conclamar a lei comum ou a Carta Magna”, a paz social depende na “subordinação da classe servil à toda pessoa branca livre”. Leia o artigo na íntegra. Reginaldo Bispo | Fonte: Lavra Palavra – Read Settlers.

Do mar ao sertão do Nordeste, mulheres promovem uma revolução silenciosa e derrubam clichês

Marisqueiras e agricultoras quebram padrões culturais com a defesa do seu papel no sustento de casa e na economia da região. A Marlene dos Santos Santana, nunca lhe ensinaram a pescar. Aprendeu a pegar siri e aratu no mangue, a tirar ostra ou a puxar o peixe com uma vara de linha de tanto acompanhar os pais trabalharem na beira do rio em Campinhos, a maior comunidade da Reserva Extrativista de Canavieiras, no extremo sul da Bahia. A vida dela seguiu um curso comum para as mulheres que integram as mais de 2.000 famílias que vivem na região: a de abraçar a atividade pesqueira como profissão antes mesmo dos dez anos de idade. Quando elas chegaram à adolescência, já sabiam que o tempo de trabalhar quem dita é a maré e que mulher tem que se virar entre a lama e a água salgada porque, mesmo que os maridos sejam historicamente vistos como arrimos de família, é da versatilidade delas que vem uma relevante produção para a renda familiar. Marlene viu as mulheres da comunidade se organizarem na Associação Mãe da Reserva Extrativista de Canavieiras (Amex). Ela integrou o grupo e, ali, começou a entender que também tem direitos. Não deixou a pesca, mas se embrenhou em uma longa luta pelas famílias de pescadores e, em especial, pelas companheiras. Hoje, vê a geração de suas netas despertar para uma vida que mantém a tradição da família, mas tem como premissa não aceitar o mínimo e reivindicar a igualdade de gênero. Leia a reportagem completa. Fonte: El País.

Maria Rita Kehl: “o ressentimento chegou ao poder?”

Da Alemanha nazista ao Brasil de hoje, o ressentimento impulsiona forças políticas reacionárias e violentas, escreve a psicanalista Maria Rita Kehl no ensaio “O ressentimento chegou ao poder?”. “As classes decadentes que se sentem humilhadas com a perda de sua posição se ressentem, acima de tudo, contra os que, situados em um lugar inferior a eles na hierarquia social, não se deixam humilhar. Em vez de tomá-­los como aliados em uma empreitada pela recuperação da dignidade perdida, procuram afastá-los e assegurar os mais ínfimos sinais de distinção e respeitabilidade” [Tzvetan Todorov]. No caso da “psicologia do bolsonarista”, vale considerar o momento anterior à retração econômica – esta que aniquilou o segundo mandato de Dilma Rousseff e pegou em cheio o governo ilegítimo de Michel Temer. Durante o período de crescimento econômico promovido pelos governos petistas anteriores a 2014, um grande contingente de “pobres” ascendeu aos padrões econômicos da classe média baixa. O Bolsa Família, ao contrário do que diziam seus detratores, não funcionava como “bolsa­-esmola” para alimentar a vadiagem do povo. Muitas famílias que viviam abaixo da linha da pobreza usaram o pouco dinheiro do programa, ou parte dele, para iniciar pequenos negócios. De criação de cabras (começando com dois ou três animais…) à abertura de videolocadoras ou fornecimento de comida caseira, muitos beneficiados pelo programa criaram alternativas de sobrevivência. [5] Vale lembrar que a maioria desses beneficiários, tão logo se firmava em um novo negócio ou um novo emprego, declarava não precisar mais do auxílio; já se sentiam pertencendo, daí por diante, a uma emergente classe média baixa. Leia o artigo na íntegra. Fonte: A Casa de Vidro.

Eis os economistas rebeldes

Por Ladislau Dowbor – O que está surgindo com muita força no mundo das ciências sociais, e em particular da economia, é a busca de novos rumos. As quatro décadas, dos anos 1980 até 2020, trouxeram uma visão simplificada e a narrativa correspondente de redução do papel do Estado, liberalização do comportamento corporativo e globalização dos fluxos econômicos. A economia não está despertando das simplificações ideológicas e das narrativas absurdas apenas de dentro da sua área. É a partir da área da psicologia social que Jonathan Haidt nos tira da patética simplificação do homo economicus e mostra como construímos racionalizações para o absurdo político. Frans de Waal, da antropologia, mostra como somos presas fáceis de uma irracionalidade que tem profundas raízes genéticas, não à toa estamos nos massacrando uns aos outros, em violências e guerras intermináveis desde sempre: ainda pertencemos em boa parte aos nossos antepassados primatas. Wolfgang Streeck nos traz com muita força a compreensão da interação entre a economia, a cultura e a política, concluindo que não é o fim do capitalismo, mas sim o fim do capitalismo democrático. Ou seja, as diversas áreas das ciências sociais terminam por recolocar a economia no seu devido lugar: um coadjuvante necessário mas insuficiente da análise integrada das transformações sociais. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Instituto Humanitas Unisinos.

Controle dos think tanks nos EUA e alcance global de suas redes de poder

O professor da Universidade de Londres e também presidente da Associação Britânica de Estudos Internacionais (British International Studies Association), Inderjeet Parmar, discursou no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos sobre o poder global liderado pelas think tanks estadunidenses e deu uma entrevista exclusiva para a Carta Maior no final do evento. O professor explicou que a crise do capitalismo liberal que vivemos hoje possui diversos fatores que se relacionam, todos eles construídos pelo que ele chama de “Elite do Conhecimento”. Essa elite seria constituída, organizada e comandada pelo poder de corporações gigantes (think tanks), como a Rockefeller, por exemplo. É a manifestação do que sociólogo marxista italiano Antonio Gramsci, diversas vezes citado por Parmar, chamou de “americanização”: um novo modo de fazer negócios, de organizar a malha industrial e de deter o poder. “O projeto de modernização que corporações como a Rockefeller propõem está destinado a ser muito poderoso e a ter sérias consequências globais. Essas empresas usam o conhecimento como poder”, explica o professor. Leia a matéria completa. Fonte: GGN.

 

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Colaboradores: Jonaire Mendonça e Erica Larusa

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