A Socióloga Ana Paula Mendes de Miranda aponta: numa cidade acuada, como o Rio, “mesada” cobrada pelos paramilitares em troca de segurança gera mais lucro que o tráfico de drogas local. Como elas se “infiltram” no Estado e instituições – e se espalham pelo país. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, a professora explica que o tráfico de drogas mudou muito e o “negócio” não é mais tão lucrativo quanto foi no passado. Enquanto isso, a milícia vai se organizando tanto no fornecimento de serviços, públicos e privados, que não chegam à periferia, quanto na associação com o próprio tráfico. “A milícia é um grupo paramilitar formado por pessoas da ativa ou não”, explica. Composta por ex-policiais, às vezes expulsos das corporações por crimes, o grupo é bem diversificado, contendo ainda “membros do corpo de bombeiros, guardas municipais, agentes penitenciários, pessoas das forças armadas” e, em alguns casos, agindo em cooperação com o tráfico. “A milícia é a privatização da segurança. É a institucionalização da privatização da segurança”. Leia a entrevista na íntegra. Fonte: IHU.

Mortes por fogo, espada e esquartejamento marcam ‘Tribunal’ das milícias; mães de vítimas se unem por justiça

“‘Antes, tínhamos medo dos filmes de terror na televisão. Hoje, vivemos o terror ao vivo’. O relato é de uma mãe que teve o filho assassinado pela milícia no ano passado, em Nova Iguaçu. E não se trata de exagero diante da realidade imposta por grupos criminosos no Rio. Os cadáveres nos cemitérios clandestinos , muitos anônimos, são a face mais cruel do que acontece em territórios dominados pela força paramilitar . Um dos casos mais emblemáticos, o do mototaxista Jonathas Freitas de Mendonça, de 19 anos, de Itaboraí, revela a dimensão das atrocidades: um miliciano preso contou ao Ministério Público estadual que o rapaz teve o corpo esquartejado com machado, ainda vivo, e teve o coração arrancado. Casado por três anos, o jovem deixou filhos gêmeos de apenas 1. Ele foi sentenciado à morte pela simples suspeita de que teria delatado um miliciano, que acabou morto pelo tráfico em março deste ano. Mas as investigações, de acordo com o promotor Rômulo Santos Silva, do Gaeco, apontam que Jonathas não era envolvido com bandidos. Leia a reportagem completa. Fonte: Agora Noticias Brasil.

Construindo pontes: diálogos a partir do/com o feminismo negro

Por Mercedes Jabardo Velasco – Este artigo passa em revista o pensamento de diversas teóricas do feminismo negro, especialmente as estadunidenses, consideradas centrais nesta vertente do feminismo, como Sojourner Truth (1852), Angela Davis (2016), Audre Lorde (1984) e bell hooks (1981). Discute-se desde a origem da vertente, a partir do questionamento de Truth (1852) de “E eu não sou uma mulher?”, passando pelas suas bases conceituais com Collins (2000a), até as contribuições mais recentes do feminismo negro britânico e sua relação com o pós-colonialismo, com Carby (1982) e Pramar (1990). Evidencia-se, desse modo, a multiplicidade de ideias dentro do feminismo negro, demonstrando sua complexidade em diferentes contextos socioculturais.como montar uma loja virtual. O feminismo negro possui as características dos movimentos que estão em processo de construção de seu programa de luta e de emancipação a partir de diversas e superpostas estruturas de dominação. Inclusive conflitivas, por vezes. Falar de gênero e de “raça” como elementos de desigualdade é, em certo sentido, reducionista se não estiver demarcado nas condições em que ambos os critérios emergiram como veículos de opressão. O movimento feminista negro surgiu na confluência (e tensão) entre dois movimentos: o abolicionismo e o sufragismo, em uma difícil intersecção. Mesmo tendo uma presença relevante em ambos, a combinação de racismo e sexismo terminou excluindo as mulheres negras dos dois. Tal fato não paralisou seu impulso emancipador, muito pelo contrário. As feministas negras foram, desde o princípio, extraordinariamente lúcidas na hora de se posicionarem e fortes na hora de estabelecerem alianças: com os homens de sua própria “raça” nas antigas comunidades de escravizados, com as mulheres brancas na luta pelo sufrágio feminino e, sobretudo, com todas as mulheres negras quando o racismo contaminou o movimento sufragista estadunidense e quando a emancipação incorporou as diferenças de gênero nas comunidades negras. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Revista Artemis, v. 27, n. 1, 2019.

Pretas e pretos estão se a(r)mando

Por Geisa Agricio – A força da identidade cultural negra que vem sendo consolidada pelos movimentos sociais e pelas políticas afirmativas dos últimos anos avolumou os debates e tornou mais explícitas as contradições das questões raciais no Brasil. O racismo e a forma como ele afeta estruturalmente a vida das pessoas pretas e pardas estão em pauta e, por conseguinte, eclodem problematizações sobre os impactos profundos que uma estrutura de opressão – que invisibilizou e buscou o apagamento da própria existência do povo negro – causa na construção da sua afetividade. Não faz muitos anos que se popularizaram debates sobre temas complexos como a solidão da mulher negra e a “palmitagem” (termo pejorativo para designar o preterimento de pessoas negras por brancas). Na condição inerentemente humana da busca pelo amor, é possível delinear na especificidade de uma negritude engajada um crescente número de afrodescendentes investindo suas relações em pessoas etnicamente semelhantes, a despeito da violência simbólica até hoje imposta pelo mito da democracia racial. Leia a reportagem completa. Fonte: Revista Continente.

Direito à terra na encruzilhada: O povo de santo e a luta por dignidade

Por Humberto Manoel de Santana Jr. – Este texto é uma reflexão sobre a importância da discussão sobre o direito à terra para as religiões de matriz africana, em especial o candomblé. Para essa reflexão é necessário compreender as diferentes relações com a terra que se apresentam no choque de civilizações.1 Para uma análise de tudo que está envolvido na luta pela terra é necessária uma breve contextualização do processo de desterritorialização e reterritorialização dos povos africanos que foram arrancados de sua terra de origem. Assim, afirmamos a importância de compreender o combate à intolerância religiosa como parte da luta por direito à terra. A reflexão sobre tolerância religiosa será construída a partir do campo de atuação do racismo que atinge as religiões de matriz africana, permitindo uma convivência dissimulada que utiliza a retórica liberal da tolerância e liberdade religiosa como discurso oficial, enquanto na prática as intolerâncias em suas diversas formas são estimuladas pelos silêncios2 em defesa de um sistema antinegritude. Leia o artigo na íntegra. Fonte: SUR Revista Internacional de Direitos Humanos, n. 29, 2019.

Judith Butler: conhecimento contra o medo

No novo projeto ‘Reino Sagrado da Desinformação’ sobre as conexões entre política e religião, a Gênero e Número publica uma entrevista com a filósofa Judith Butler, em que ela propõe diálogo com as igrejas, chama a atenção para a emergência de forças autoritárias e relembra protestos contra ela em São Paulo como “celebração da misoginia”. Ela vivenciou no Brasil o clima de misoginia aflorada, uma prévia do que candidatos que promovem uma agenda de equidade e direitos das mulheres enfrentaram nas eleições de 2018. Butler foi embora impressionada. Nessa entrevista ela afirmou que a academia precisa voltar ao básico para ampliar seu discurso e combater a desinformação sobre os estudos de gênero: “Devemos deixar claro o que fazemos, por que isso é importante, e também mostrar o que não fazemos e por que não fazemos. Isto é, explicar nosso pensamento e nossa ética”. Leia a entrevista completa. Fonte: Gênero e Número.

Naomi Klein: ”O futuro é radical, no aspecto ambiental e no político”

Em seu novo livro, jornalista canadense chama população à luta: da jurídica à das ruas e fábricas. Uma das grandes batalhas hoje é lutar contra esse sentimento de que o colapso é irreversível; não ajuda nada esse boom da ficção distópica, com colapso econômico e oligarquias de ricos que têm segurança, espiões, leis e países quase próprios. Trump é a distopia feita realidade, por isso nos EUA pode haver certo sentimento de complacência dessas elites e de resignação entre o resto; mas muita gente luta contra isso. Como numa apocalíptica versão da Cinderela, o relógio do colapso ambiental se aproxima de meia-noite. E, como as elites não se podem dar ao luxo de levar a sério a mudança climática, pois isso “equivale a reconhecer o fim do projeto neoliberal”, o resto da sociedade precisa agir imediatamente. Leia a entrevista na íntegra. Fonte: Carta Maior.

Sínodo da Amazônia: Rota de Colisão

Na Amazônia, reinam “a violência, o caos e a corrupção”. A constatação faz parte dos documentos de trabalho preparados por bispos e dioceses como base das discussões para o Sínodo da Amazônia, marcado para outubro em Roma. Nos últimos meses, o governo de Jair Bolsonaro demonstrou profunda irritação em relação ao evento, transformando a reunião entre religiosos em seu mais novo palco de um confronto diplomático internacional. O conteúdo das propostas, de fato, pode significar uma pressão maior ao governo e uma maior capacidade de mobilização das populações que, hoje, são vítimas de abusos de direitos humanos e esquecidas pelo Estado. Após os debates em Roma, o papa Francisco poderá responder aos temas propostos com uma carta apostólica, determinando, então, uma linha de atuação da Igreja. Na lista de sugestões recomenda-se, entre outros pontos, que a Igreja “assuma sem medo a aplicação da opção preferencial pelos pobres na luta dos povos indígenas, das comunidades tradicionais, dos migrantes e dos jovens, para configurar a fisionomia da Igreja amazônica”. Leia a reportagem completa. Fonte: UOL.

Petróleo, guerra e corrupção: entender Curitiba

Por José Luís Fiori e William Nozaki – No mundo mafioso dos combustíveis fósseis, uma hipótese: as corporações que subornavam executivos da Petrobras notificaram Washington. E os EUA acionaram juízes e procuradores “aliados”, quando o pré-sal atiçou sua cobiça. Os norte-americanos costumam festejar as duas grandes gerações que marcaram sua história de forma definitiva: a geração dos seus founding fathers, responsável pela criação do seu sistema político, na segunda metade do século XVIII; e a geração dos seus robber barons, responsável pela criação do seu capitalismo monopolista, na segunda metade do século XIX. Dentro da geração dos “barões ladrões”, destaca-se a figura maior de John D. Rockefeller, que ficou associada de forma definitiva ao petróleo e à criação da Standard Oil Company, a primeira das “Sete Irmãs” que controlaram o mercado mundial do petróleo até o final da II Guerra Mundial, e ainda ocupam lugar de destaque entre as 15 maiores empresas capitalistas do mundo. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Outras Palavras.

Educação em Ciências na Escola Democrática e as Relações Étnico-Raciais

Por Bárbara Carine Soares Pinheiro – O presente artigo tem como objetivo, a partir de uma revisão bibliográfica nas principais referências da área etnocêntrica e decolonial nas ciências no Brasil apontar caminhos para a educação em ciências naturais, abordando as relações étnico-raciais como eixo norteador. Neste sentido, revisamos a literatura das teorias decoloniais com o intuito de compreender do que se trata o processo de descolonização de saberes, bem como de compreendermos o que nos trouxe até este estágio epistêmico, cosmogônico e global eurocêntrico que reduziu nossas existências e produções intelectuais a um padrão de referência único e universalizado. Para tal, apresentamos produções científicas africanas pré-diaspóricas, bem como cientistas contemporâneos que destoam desses padrões socialmente impostos, visando ampliar a imagética acerca da noção de ciência e pautar a importância de se discutir representatividades diversas nos espaços de poder, dentre eles o de produção acadêmica. Ressalto que a escrita deste texto se dará em afro perspectiva por meio da proposição teórico-metodológica cunhada pela escritora Conceição Evaristo, denominada escrevivência. Por esta razão imprimo nestas palavras o que leio, penso e sinto. Realizo não só formulação e reformulações a partir de outros e outras, como também parto deste meu lugar de mulher negra brasileira nordestina que atua na área de Ensino de Química. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v.19, 2019.

Entrevista: Kleber Mendonça Filho

No dia 17 de maio de 2016, com o filme Aquarius, o cinema pernambucano realizava um feito inédito: concorria, pela primeira vez, à mais prestigiada categoria competitiva do cinema, a Palma de Ouro. O longa foi um dos mais premiados de 2016, levando o cineasta a entrar, pela segunda vez (a primeira foi com O som ao redor, de 2013), na seleta lista dos 10 melhores filmes do ano pelo New York Times. Em meio ao lançamento do seu terceiro longa de ficção, Bacurau, ele concedeu entrevista às repórteres especiais da Continente, Débora Nascimento e Luciana Veras. O diretor também analisa as mudanças no cinema brasileiro, que levaram a uma maior diversidade de temas, e critica as possíveis perdas na área – após os anúncios feitos pelo governo federal. Aliás, um paradoxo, pois o cinema nacional nunca foi tão diversificado, democrático e premiado. Mas Kleber aposta na resistência. Leia a entrevista na íntegra. Fonte: Revista Continente.

 

EXPEDIENTE

MÍDIA NEGRA E FEMINISTA

Boletim Eletrônico Nacional

Periodicidade: Mensal

EDITOR

Valdisio Fernandes

EQUIPE

Aderaldo Gil, Allan Oliveira, Aline Alsan, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Enoque Matos, Eva Bahia, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Kenia Bandeira, Keu Sousa, Josy Andrade, Josy Azeviche, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Felipe de Carvalho, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Ricardo Oliveira, Ronaldo Oliveira, Silvanei Oliveira.

Colaboradores: Jonaire Mendonça e Erica Larusa

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MÍDIA NEGRA E FEMINISTA Ano XX – Edição Nº236 – NOVEMBRO 2024

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