Em circulação desde abril de 2004 o boletim eletrônico nacional do Instituto Búzios completou este ano, 15 anos de publicação mensal ininterrupta. Produzindo e divulgando artigos e matérias com foco no povo negro, no feminismo e na justiça ambiental, o veículo tem se afirmado como um dos principais canais de formação e informação para a promoção da equidade racial, de gênero, a conquista de direitos e a afirmação da cidadania. Compreendemos que a igualdade racial é condição necessária ao desenvolvimento pleno da democracia e da cidadania no nosso país. As políticas de inclusão social, e a promoção da igualdade racial se constituem numa exigência histórica e objetivo estratégico da nossa luta secular. Pugnamos pela democratização do poder público em todas as esferas de atuação e governo e o combate a toda forma de discriminação racial e de gênero. No artigo Jornalismo, imagem e poder: repertório para as representações raciais (apresentado no I Enjira) Rosane Borges explica: “Ao pluralismo de vozes no jornalismo deve corresponder o pluralismo de imagens, para que os regimes de visibilidade que orientam a publicidade de homens e mulheres negros não sejam regimes de exceção. Afora jogadores de futebol e artistas, a visibilidade do poder ainda se encarna em corpos que, mesmo desapegados do poder sagrado de outrora, tem a inscrição de signos que reafirmam o humano; signos esses sistematicamente subtraídos da população negra nos dispositivos imagéticos que chegam até nós (pautas sobre comportamento, política, ciência flagram insistentemente a ausência de negros). Portanto, pensar num jornalismo democrático é pensar, antecipadamente, nos pactos estabelecidos para a visibilidade e transparência do mundo”. Segundo Alicianne Gonçalves de Oliveira, o movimento negro brasileiro vem utilizando, ao longo de sua história, diferentes estratégias – comunicacionais, associativas e institucionais – para que a questão negra chegue à esfera pública do País. As estratégias de comunicação, em conjunto com as associativas e institucionais, conseguiram: (1) influenciar a articulação entre sentimentos de injustiça no plano individual e em uma dimensão social, e, assim; (2) propiciar um cenário favorável para que os negros articulassem um quadro intersubjetivo para interpretar a sua realidade, gerando motivação para a luta por justiça social. “O racismo situa-se em condições estruturais que perpassam as dimensões subjetivas, políticas e econômicas de nossa sociedade. Priorizamos uma abordagem estrutural e interseccional de raça, gênero, classe, destacando essas dimensões interseccionais nas múltiplas discriminações e o seu impacto no exercício dos direitos humanos”, Afirma Valdisio Fernandes – Fundador do Instituto Búzios e Editor da publicação.

A toga dá lugar à farda e o extermínio é a sentença

Em nosso Estado de Direito, a atuação estatal é rigorosamente delimitada pela Constituição e leis, o que significa, portanto, que a polícia tem suas funções preestabelecidas e sua atuação expressamente prevista, sendo absolutamente ilegal o agir arbitrário, fora das hipóteses normativas. De acordo com nosso ordenamento jurídico, então, as polícias militar e civil vão às ruas, cada qual com sua função, para realizar rondas ostensivas e atuar quando diante de um flagrante de crime, efetuar diligências investigativas ou cumprir um mandado judicial. E quem diz isso é a Constituição Federal, documento no qual não se lê, em qualquer parte, que a polícia deve ir às ruas para matar. Portanto, apesar de existirem em nosso ordenamento normas que proíbem a morte cometida por policial sem estar em legítima defesa, a falta de imposição (enforcement) frustra a produção de seus efeitos. Leia o artigo na integra. Fonte: Justificando.

Rob Urie: Repensando Raça, Identidade e Classe

A raça é um dos eixos mais torturados nas relações sociais norte-americanas. Essa nação foi formada pela escravidão e pelo genocídio e nenhuma redistribuição política e econômica de poder foi feita para reparar o desequilíbrio que isso resultou. E tipos menos formalizados de violência e exploração continuaram a persistir até o presente. O mesmo é verdadeiro para o tratamento das populações indígenas – na recente década de 70 mulheres indígenas que estavam na idade para ter filhos eram esterilizadas compulsoriamente. Essa história cria um paradoxo. Três séculos e meio após a encarnação da escravidão ser trazida para a América pelos Anglo-Americanos e 150 anos após o seu fim formal, a injustiça racial continua. A base econômica dessa injustiça foi bem entendida durante a escravidão. Enquadramentos subsequentes em termos de raça distorcem os motivos econômicos que persistiram até o presente. A estratégia de colocar a escravidão e o genocídio em um passado nebuloso ignora que o genocídio contra a população indígena ainda estava em andamento quando os nazistas começaram sua ascensão política na Alemanha. A relação entre “limpar a terra” através do genocídio nas Américas e a ascensão da hegemonia industrial e militar americana dificilmente exigia um salto analítico. Nem a contribuição da “acumulação de capital” que resultou da escravidão. Leia o artigo na integra. Alexsandro Casemiro | Fonte: Traduagindo.

Negros se matam mais: a crise, o racismo e capitalismo aumentam o suicídio entre negros

Suicídios aumentaram 45% dentre os jovens que se autodeclaram negros, em meio ao aprofundamento dos ataques e ajustes de austeridade no Brasil. O capitalismo mais uma vez violenta a juventude negra e pobre, e dos principais fatores responsáveis é o racismo estrutural na sociedade brasileira, que se aprofunda frente aos ataques do governo, do autoritarismo judiciário e do governo mais militar desde a ditadura. As vidas negras não podem pagar pela crise. O que está levando essa juventude negra a tirar sua própria vida e principalmente quando essa juventude é do sexo masculino? Fazendo um recorte histórico, somos um país com mais anos de escravidão do que pós-abolição da escravatura. A burguesia brasileira tem DNA racista, utilizou o mito da democracia racial por décadas para fingir que não havia racismo e negar nossa identidade, enquanto a realidade nua e crua era uma enorme exposição de racismo e segregação. Leia a matéria na íntegra. Fonte: Esquerda Diário.

O 15M no Brasil e o desgaste precoce do governo Bolsonaro: como as redes sociais e o mundo em rede aceleram todas as experiências e encurtam o tempo histórico

Por Roberio Paulino – Muitas vezes quando estamos imersos no turbilhão de um processo social não conseguimos compreender exatamente seu real significado e sua dimensão. Para isso, torna-se necessário parar, tomar distância, se elevar, ver de cima o que se passa, de forma panorâmica, ao mesmo tempo que recorrer à História, a processos passados, comparar. Em minha segunda carta daqui de Londres, escrita antes das manifestações de 15M no Brasil, afirmei que a Revolução Tecnológica que vivemos e as redes sociais estavam acelerando todos os processos e as experiências com governos, partidos, ideias, e que, portanto, o desgaste do governo Bolsonaro seria provavelmente rápido. Nenhum de nós, imaginava, no entanto, que tão rápido. Amigos de várias partes do Brasil que leram aquela carta entraram em contato comigo para dizer que eu estava muito otimista, que não estava vendo a dificílima situação pela qual passamos no Brasil com a ascensão de um radical de direita ao governo. Alguns me disseram mesmo que a vitória de Bolsonaro era uma derrota histórica dos trabalhadores e que tínhamos que nos preparar para um longo inverno, no que toca à situação política no Brasil. Penso que as manifestações de 15/05 no Brasil – que nos enchem de ânimo e orgulho, especialmente por nossa juventude, e nos dão muitas esperanças de dias melhores – ajudam a esclarecer a questão e revermos juntos nossas visões, o que há de negativo e o que há de positivo na situação política do país. Lutas sociais e mesmo revoluções não acontecem quando os povos estão bem, mas exatamente quando os direitos sociais e as condições de vida das populações são fortemente atacados, quando a situação se torna insuportável. O tamanho do ataque às universidades públicas e à educação turbinou as mobilizações. A estupidez e inabilidade de Bolsonaro e seus ministros também. Leia o artigo na integra. Fonte: Esquerda Online.

O grande naufrágio brasileiro, em olhar estrangeiro

Por Pierre Salama – Prever um ou mais futuros possíveis para o Brasil é hoje particularmente difícil por duas razões: uma delas se deve ao contexto internacional que se encontra atualmente em deslocamento; a outra se deve ao choque político que o país atravessa desde a eleição de um presidente que deseja romper com o passado de uma forma particularmente brutal e muitas vezes incoerente. O contexto internacional é cada vez mais instável, com a ascensão da China e o declínio relativo dos Estados Unidos; as mudanças brutais nas “regras do jogo” que governaram a globalização do comércio até recentemente; o abrandamento do crescimento do comércio internacional e a adoção de medidas protecionistas; a transformação da tecnologia e o surgimento da inteligência artificial e das automações; a probabilidade significativa de uma crise financeira internacional. À medida que os meses passam, a política econômica proposta pelo novo governo está cada vez mais sendo rejeitada, seja pelo Congresso ou pelo povo. Às vezes, afigura-se incoerente devido às declarações intempestivas, quer dos parentes do Presidente (família, conselheiros) quer de ministros incompetentes em oposição ao ministro da economia ou ao vice-presidente. Assim, ela sofre de um déficit de racionalidade (Habermas, 1978), isto é, de uma incapacidade de implementar um programa econômico controverso, politicamente liberal, embora coxo. Leia o artigo na integra. Fonte: Outras Palavras.

O recesso da democracia e as disputas em torno da agenda de gênero

Por Flávia Biroli – A contestação das agendas da igualdade de gênero e da diversidade sexual tem tido um lugar de relevo nos conservadorismos atuais e em sua capacidade de constituir e mobilizar públicos. As pesquisas em curso têm ampliado a compreensão do backlash contra o gênero. Trata-se de uma mobilização internacional que tem origem nos anos 1990, como reação à incorporação da agenda de gênero nos debates e documentos resultantes das conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) ocorridas no Cairo (1994) e em Pequim (1995). Conservadores católicos e pentecostais são protagonistas nessa mobilização, convergindo ou aliando-se estrategicamente na sua promoção em diferentes países, o que se acentuou nos anos 2000. Entendo que as disputas em torno da agenda de gênero compõem, atualmente, a crise das democracias liberais, embora nem sempre sejam consideradas por quem as analisa. São também uma chave na conexão entre conservadorismos, a mobilização de públicos e a ascensão de projetos autoritários por meio do voto. Leia o artigo na integra. Fonte: Boitempo.

A História das Mulheres (séc. XX – XXI): entre poder, resistência e subjetivação

Por Losandro Antonio Tedeschi e Sirley Lizott Tedeschi – Neste artigo, analisamos a potência produtiva e criativa de práticas de resistência na história das mulheres contra os efeitos das relações de poder instituídas que assujeitam e aviltam a vida. Aproximamo-nos dos estudos pós-estruturalistas e dos estudos feministas e destacamos principalmente as contribuições de Michel Foucault no que se refere à noção de resistência e às reflexões de Gilles Deleuze sobre a obra foucaultiana. Entendemos que as práticas de resistência representam um trabalho sobre si e possibilitam a criação de gestos ativos e transgressores capazes de constituir novos modos de existência, novas subjetividades. A análise mostra que as práticas de resistência na história das mulheres, contra os efeitos de poder do mandato patriarcal, são ações que podemos chamar de menores, de desviantes, mas com força para produzir espaços de liberdade; são forças potencializadoras de outras formas de existência, capazes de compor outras formas de vida; vidas que agem em vez de apenas reagir às práticas instituídas. Nesse sentido, afastamo-nos das concepções que veem nas práticas de resistência apenas oposições ou reações ao poder e buscamos ressaltar que as práticas de resistência instauram fissuras, abalos nos modos de vida estabelecidos e potencializam outras formas de existência. O desafio consiste em encontrar mecanismo para ampliar cada vez mais as ressonâncias desses abalos, dessas fissuras. Leia o artigo na integra. Fonte: Revista Tempo e Argumento, v. 11, n. 26, p. 508 – 529, UDESC, jan./abr. 2019.

Entrevista | Lilia Schwarcz: “Sobre o autoritarismo brasileiro”

Lilia Schwarcz lança seu novo livro, “Sobre o autoritarismo brasileiro” (Companhia das Letras). A antropóloga e historiadora da USP reconta a origem do mito da democracia racial (que não foi criado por Gilberto Freyre, mas por ele disseminado) e arremata com as críticas certeiras de Florestan Fernandes a essa ideia. A autora se baseia em dados estatísticos para analisar as bases do autoritarismo e fragilizar mitologias nacionais, nas quais o Brasil seria um país tolerante e acolhedor. Os brasileiros gostam de se crer diversos do que são. Tolerantes, abertos, pacíficos e acolhedores são alguns dos adjetivos que habitam frequentemente a mitologia nacional. Neste livro urgente e necessário, Lilia M. Schwarcz reconstitui a construção dessa narrativa oficial que acabou por obscurecer uma realidade bem menos suave, marcada pela herança perversa da escravidão e pelas lógicas de dominação do sistema colonial. Ao investigar esses subterrâneos da história do país — e suas permanências no presente — a autora deixa expostas as raízes do autoritarismo no Brasil, e ajuda a entender por que fomos e continuamos a ser uma nação muito mais excludente que inclusiva, com um longo caminho pela frente na elaboração de uma agenda justa e igualitária. Leia a entrevista na integra. Fonte: Vermelho.

Angela Teodoro Grillo: Questões étnico-raciais em Mário de Andrade

Chega às livrarias o livro “Aspectos do folclore brasileiro”, de Mário de Andrade, pela Global Editora. A edição traz para o público textos inéditos em que o modernista trata das questões étnicos-raciais no país. Nela consta uma parte chamada “Estudos sobre o negro”, dada como desaparecida por 60 anos e que constitui uma reflexão valiosa do autor sobre o racismo no Brasil. A pesquisadora Angela Grillo, que descobriu o material inédito e organizou a edição, conversa com Edma de Góis sobre sua pesquisa e expõe sua visão sobre a forma como Mario tratou de questões étnico-raciais em sua obra. “Se estamos diante de um artista/intelectual modernista que se preocupa com o “encontro das três raças”, como se dizia na na época, para compreender a identidade brasileira, eu me perguntava onde estaria a contribuição da cultura negra na obra dele. No Preto encontrei a porta para entender isso. Ainda que a mudança de título Preto para Estudos sobre o negro não tenha tido tempo de ser feita por ele, a análise e a interpretação dos documentos permitiram a identificação desses documentos como a segunda parte do projeto vislumbrado pelo autor. Essa segunda parte reúne textos (com notas de pesquisa) em que Mário de Andrade está pensando sobre a origem e em que medida se dá a violência contra o negro no Brasil. É interessante notar que se no artigo e na conferência ele afirma que qualquer negro no Brasil pode alcançar um lugar de poder, a seguir, em 1939, o escritor muda de opinião, como podemos ver desde o título daquele que considero seu texto mais importante sobre o tema, o Linha de cor”. Leia a matéria na íntegra. Fonte: Suplemento Pernambuco.

Projeto Science Vlogs Brasil, a maior rede de iniciativas de divulgação científica no país

Com cerca de 8 milhões de inscritos no YouTube e mais de 500 milhões de visualizações, o projeto Science Vlogs Brasil foi relançado no dia 16de maio. A rede, que reúne os principais canais de divulgação científica no YouTube, foi fundada em março de 2016, “como contraponto à onda de fake news e pseudociência”, segundo os organizadores. Com o relançamento, a plataforma pretende se expandir, atraindo novos colaboradores. Atualmente, 48 canais integram a comunidade, que abrange as chamadas ciências naturais (astronomia e física, por exemplo) e ciências humanas (história, arqueologia, antropologia, entre outros campos). Os youtubers incluem estudantes, professores, jovens cientistas e jornalistas especializados em ciência. Leia a matéria na íntegra. Fonte: Nexo.

Por uma Rebelião Cibernética

Por Gabriel A. Méndez H. – Os Estados mais poderosos e as megacorporações preparam o hipercapitalismo, um inferno de desemprego e precariedade. Há saída, previam Marx e Stephen Hawking. Exigirá descriptografar o Big Data e resgatá-lo de seus sequestradores. Este artigo tentará dar conta de um fenômeno emergente no espaço das relações políticas: a “guerra mundial cibernética”. Primeiro, definirei os termos que utilizarei ao longo do texto. Em seguida, aplicarei os ditos conceitos ao contexto do fenômeno apontado e, depois, tentarei fazer uma interpretação original do mesmo, para concluir com um olhar prospectivo sobre sua possível transformação em “guerra civil cibernética”. Leia o artigo na integra. Fonte: Outras Palavras.

 

EXPEDIENTE

MÍDIA NEGRA E FEMINISTA

Boletim Eletrônico Nacional

Periodicidade: Mensal

EDITOR

Valdisio Fernandes

EQUIPE

Aderaldo Gil, Allan Oliveira, Aline Alsan, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Enoque Matos, Eva Bahia, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Kenia Bandeira, Keu Sousa, Josy Andrade, Josy Azeviche, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Felipe de Carvalho, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Ricardo Oliveira, Ronaldo Oliveira, Silvanei Oliveira.

Colaboradores: Jonaire Mendonça e Erica Larusa

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MÍDIA NEGRA E FEMINISTA Ano XX – Edição Nº236 – NOVEMBRO 2024

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