Por Paulo Érico Cardoso – Revolução e contrarrevolução no Brasil (Porto Alegre: FCM Editora, 2019. 420 p.), de Mário Maestri, é leitura para os que pretendem compreender a história do país e de como chegamos a situação atual. O auto reapresenta a saga do Estado-Nação, através da história da luta de classes de cinco séculos, seus avanços e retrocessos fundamentais. A leitura dessa obra é mais necessária ainda para aqueles que têm compromisso com a transformação social do país. Mário Maestri não chegou a esse resultado sozinho: ele se reconhece tributário da produção de cientistas sociais que o precederam como Benjamin Péret, Clóvis Moura, Emília Viotti da Costa, Jacob Gorender, Moniz Bandeira, Octávio Ianni, Robert Conrad, entre outros. O autor conduz o leitor a gênese da exploração da força de trabalho no país. O livro começa explicando como se estabeleceu o “Escravismo Colonial”, modo de produção historicamente novo, descrito em forma categorias-sistemática por Jacob Gorender em obra homônima, de 1976, segundo Mário Maestri, uma verdadeira “revolução copernicana” na interpretação da formação social brasileira, superando a falsa polêmica entre “passado feudal” ou “passado capitalista” que dividira por décadas as ciências sociais e a esquerda brasileira. Os teóricos do PCB pintavam um passado latino-americano feudal com reminiscências no latifúndio. Os principais defensores dessa tese foram Astrogildo Pereira, Octavio Brandão, Nelson Werneck Sodré e Luís Carlos Prestes, até março de 1980, quando da “Carta aos Comunistas”. Por sua vez, intelectuais de distintas origens teóricas como Robert C. Simonsen, André Gunder Frank, Ruy Mauro Marini, Caio Prado Junior e o trotskista argentino Nahuel Moreno, afirmavam que desde a origem da colonização, o caráter econômico do passado colonial brasileiro era capitalista. por sua orientação mercantil (ou “para o lucro”, no caso de Simonsen), voltada para o abastecimento do mercado mundial. O equívoco da concepção do passado colonial capitalista era a análise a partir da esfera da circulação mercantil e não das relações sociais de produção, ou seja, do modo material de como se produziam as mercadorias, no caso, um “modo de produção escravista”, subordinado à condição colonial. Sendo capitalista desde a origem, toda a evolução econômica era apenas quantitativa, jamais qualitativa. Durante cinco séculos, jamais a quantidade resultava em um salto de quantidade em qualidade! A metodologia empregada não poderia ser considerada nem materialista, nem dialética. Negavam-se as determinações originárias particulares do capitalismo no Brasil. Leia a resenha na integra. Fonte: Pravda.
Qual passado usar? A historiografia diante dos negacionismos
Por Arthur Lima de Ávila – “1964 não foi golpe”. “Não houve ditadura militar no Brasil”. “Os portugueses nem pisaram na África”. “O Holocausto é um complô sionista”. O que fazer quando a arena pública se vê cada vez mais ocupada por negacionismos de todo o tipo, que almejam não só respeitabilidade historiigráfica, mas hegemonia intelectual? Peguemos, por exemplo, o caso brasileiro: recentemente, várias iniciativas empresariais e intelectuais, das quais a mais conhecida talvez seja o Brasil Paralelo, têm reconfigurado a história da ditadura civil-militar (1964-1985), minimizando tanto sua violência como seu autoritarismo e buscando reabilitá-la enquanto um “momento fundacional” da democracia brasileira, já que teria abortado uma “revolução comunista” supostamente em curso durante o governo de João Goulart. Os mecanismos para tanto, observa o historiador Fernando Nicolazzi, são uma série de omissões factuais, distorções do registro histórico e silêncios sobre dados inconvenientes do mesmo período. A ditadura, contudo, não é o único objeto de reabilitação nessas narrativas em geral e nos projetos dessa empresa específica. A escravidão africana/afro-brasileira e o tráfico atlântico de seres humanos são igualmente esvaziados de seus horrores e violências; para um dos colaboradores do Brasil Paralelo, a escravidão teria “deixado alguns legados”, sem, contudo, que ele cite quais são eles ou quais os efeitos desta escravização massiva para a estruturação de nossas imensas desigualdades sociais – sua herança, segundo ele, seria superada somente “com a passagem do tempo” e nada mais. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Café História.
Talvez haja uma larga saída à frente
Por Mariluce Moura – As universidades públicas estão na linha de tiro do governo Bolsonaro. Sair dela é questão vital, não apenas para essas instituições, mas para o país, e a pergunta crucial no debate que está sendo travado por quem as defende talvez possa, nesse momento, ser resumida à combinação da preposição “como” com a locução adverbial de lugar “para onde”. Vale também lembrar que, tão logo foi sacramentado o resultado da eleição, os melhores analistas políticos do campo democrático reiteraram o alerta de que os movimentos sociais e as universidades públicas estariam entre os primeiros alvos do futuro governo Bolsonaro. Em paralelo, é claro, às classes trabalhadoras de um modo geral, que seriam alvejadas pela reforma da previdência, depois de já bastante combalidas pela reforma trabalhista do final do governo Temer e por um desemprego cujas taxas não cessam de crescer. O alerta logo se revelaria certeiro e abril foi mais que pródigo em demonstrá-lo, fechando, no penúltimo dia do mês, com a bombástica entrevista do ministro da Educação à jornalista Renata Agostini, que na terça-feira, 30, valeu manchete no alto da primeira página do Estadão sob o título “Universidade que promover ‘balbúrdia’ terá verba cortada”. Leia a matéria completa. Fonte: Ciência hoje.
CPT: “Ajudar a violência no campo” é o que quer o Presidente Bolsonaro
Nota de repúdio da Comissão Pastoral da Terra – A diretoria e coordenação nacional da CPT vem a público manifestar seu repúdio em relação a declarações recentes do presidente Bolsonaro, de propor um projeto dando carta branca para a atuação de milícias no campo. De acordo com a Nota, “na sua fala o presidente reafirma mais de uma vez que a propriedade é sagrada, sem se atentar para a “função social da propriedade”, como reza a Constituição Federal (arts. 185 e 186). Deixa de lado, também, a forma como foram constituídas tais “propriedades”, muitas delas frutos de esbulho e violências contra os povos tradicionalmente ocupantes dessas terras, e outras tantas oriundas de grilagem”. O presidente anunciou a intenção de enviar um projeto de lei à Câmara Federal, que na realidade seria mais uma licença para matar: “É um projeto de lei que será enviado para Câmara, vai dar o que falar, mas é uma maneira de ajudar a violência no campo. É fazer com que, ao se defender sua propriedade privada ou sua vida, o ‘cidadão de bem’ entre no excludente de ilicitude, ou seja, ele responde, mas não tem punição”. Como disse com suas próprias palavras, “é uma maneira de ajudar a violência no campo”. Mas, como sempre, alguém precisa traduzir o que ele queria dizer. Neste caso é jogar a culpa da violência no campo nos sem-terra que lutam por um pedaço de terra para sobreviver, nos indígenas e quilombolas que buscam defender ou reaver territórios dos quais foram espoliados. O projeto em curso do presidente é facilitar ao máximo e a qualquer custo o avanço dos empreendimentos do capital global sobre os bens naturais protegidos por estes povos e comunidades, alguns há centenas, outros há milhares de anos. Leia a Nota na integra. Fonte: CPT.
Noam Chomsky: As terríveis 10 estratégias de manipulação massiva
Noam Chomsky é um dos intelectuais mais respeitados do mundo. Este pensador americano foi considerado o mais importante da era contemporânea pelo The New York Times. Uma de suas principais contribuições é ter proposto e analisado as estratégias de manipulação de massa que existem no mundo hoje. Noam Chomsky ficou conhecido como lingüista, mas também é filósofo e cientista político. Ao mesmo tempo, ele se tornou um dos principais ativistas das causas libertárias. Seus escritos circularam pelo mundo e não param de surpreender os leitores. Chomsky elaborou um texto didático no qual ele sintetiza as estratégias de manipulação maciça. Suas reflexões sobre isso são profundas e complexas. No entanto, para fins didáticos, ele resumiu tudo em princípios simples e acessíveis a todos. Leia a matéria completa. Eva Bahia | Fonte: Pensar Contemporaneo.
Violência contra mulheres no campo cresce 377% em 2018; casos incluem tentativas de assassinato e criminalização
Por Júlia Dolce – Relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) aponta 482 casos de camponesas, indígenas e quilombolas impactadas pela violência no campo; invisibilização social e dificuldade no acesso a políticas públicas são os principais desafios. No último ano, foram registrados 964 conflitos agrários, que resultaram em 25 mortes de lideranças camponesas, indígenas e quilombolas. Esse território sob disputa abarca uma área de 39 milhões de hectares, equivalente ao tamanho da Noruega, impactando as vidas de 590 mil brasileiros e brasileiras – sem levar em conta conflitos trabalhistas e pela água. Mas os dados são ainda mais alarmantes em relação às mulheres do campo. Segundo o levantamento da CPT, no ano passado 482 mulheres foram vítimas de violência em decorrência de conflitos agrários, um aumento de 377% em relação a 2017. Leia a matéria completa. Fonte: De Olho nos Ruralistas.
Ação feminista em defesa da legalização do aborto no Brasil
Por Carla Gisele Batista – Há algumas semanas foi realizada em Nova Iorque na sede das Nações Unidas a reunião anual da CSW – Comissão da Condição Social e Jurídica da Mulher. Se antes, governos brasileiros investiam nas relações multilaterais e costumavam ter posicionamentos progressistas nestes espaços, hoje é contra o multilateralismo e se organizou numa coalizão informal anti-aborto com os EUA, Malásia, Rússia e Santa Sé. Alegam que a ONU e “proponentes” da revolução sexual tramam um complô internacional para dissolver a família. Se, antes, os movimentos de mulheres se sentiram parcialmente vitoriosos com o que foi incluído nas Plataformas de Ação das conferências da ONU, hoje são os anti-direitos que se consideram vitoriosos. O documento final da reunião da CSW não faz nenhuma referência ao direito internacional ao aborto. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Catarinas.
EUA: A geração millennial renova os sindicatos
Sindicalismo dá mostras de vitalidade no centro do sistema. Jovens que ficaram de fora do “sonho de consumo” impulsionam onda de protestos e greves, desde 2018. Eles já não querem apenas salários melhores — querem voz na política. Trump propagandeia que é o responsável por um boom econômico “sem precedentes” no EUA. O problema é que muitas trabalhadoras e trabalhadores não estão recebendo nenhum pedaço desse grande “bolo de prosperidade” – se é que ele existe. Decidiram, então, lutar por seus direitos, um fato insólito dado o frágil sistema de direitos trabalhistas estadunidense. Por isso, o ano passado foi histórico para os EUA, representando uma efervescência sindical depois de um refluxo de quase cinco décadas. Afinal, desde a metade dos anos 1970, começou-se uma fase de implantação de políticas neoliberais: além de privatizações e desregulamentações, uma nova organização do trabalho: fragmentação e terceirizações, acompanhadas da transferência de fábricas para regiões com menos sindicatos e legislação trabalhista. Cresceram, também, os macjobs: empregos temporários e precários, sem direitos e sem benefícios e mal remunerados que exploram a força de trabalho principalmente de jovens, mulheres e imigrantes. Mas vamos recapitular esse intenso 2018 trabalhista dos EUA. Leia a matéria completa. Fonte: Outras Palavras.
Os sons do silêncio: interpelações feministas decoloniais à História da historiografia
Por Maria da Gloria de Oliveira – O artigo propõe uma reflexão acerca da invisibilidade das produções de autoria femininana história intelectual, tendo por horizonte alguns desafios postos pela perspectiva feminista decolonial. Como ponto de partida, abordo a separação paradigmática que se manifesta nas variadas formas de silenciamento acerca das contribuições intelectuais das mulheres, por conta da persistência de um modelo de pesquisa com foco predominante no estudo dos repertórios canônicos de obras de autoria masculina, branca e europeia. O argumento a ser explorado é o de que a produção de autoria feminina não se configurou como tema privilegiado e frequente da história da historiografia, mantendo-se, em larga medida, como o “outro” silenciado, marginal e periférico nos cânones historiográficos e na memória disciplinar. Por fim, defendo a efetividade da categoria de gênero como aparato conceitual crítico dos fundamentos epistêmicos da disciplina e da escrita da História, tais como a “irrelevância” dos marcadores de sexo, de raça e de classe social do sujeito da operação historiográfica, implícito nos critérios supostamente neutros, objetivos e universais de racionalidade. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Revista História da Historiografia, vol 11, nº 28.
Entrevista | Heloisa Buarque de Hollanda: “Meninas de 12 falam de feminismo o dia todo”
Heloisa Buarque de Hollanda, um dos nomes mais reverenciados do feminismo brasileiro, tomou um susto quando viu mulheres indo às ruas protestar contra um projeto de lei que dificultava o acesso ao aborto legal, em 2015. Outro susto, ao ver tantas hashtags surgindo em campanhas na internet contrárias ao assédio e à violência contra a mulher. “Não esperava ver outra geração de feministas empenhada em falar sobre esses temas. A minha falava sozinha.” Com 79 anos, a professora de Teoria Crítica da Cultura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e doutora em Letras — que diz não ter parentesco com o cantor Chico Buarque –, dedica o livro recém-lançado “Explosão Feminista” (Companhia das Letras) à neta de 12. “Ela e as amigas só falam sobre feminismo, o dia todo.” Na obra, compila textos de artistas, escritoras, poetas e pesquisadoras, entre outros feministas, sobre as divisões do movimento atualmente, representadas por negras, indígenas, lésbicas, trans, protestantes, e suas respectivas reivindicações. Leia a entrevista completa. Fonte: Extraordinárias.
A chamada “maquiagem sagrada” e a cosmetologia no Kemet
Por Érica Larusa – Algumas mulheres (principalmente empresárias,) estão utilizando um conceito que chamam de “maquiagem sagrada”. Para essas mulheres, a “maquiagem sagrada” é um instrumento de poder feminino, que pode atrair fortuna, sorte e amor. Segundo elas a maquiagem sagrada tem origem principalmente no Kemet (Egito Antigo), colocam Cleópatra como grande símbolo da utilização desta maquiagem. Porém, reduzir a utilização das substâncias desenvolvidas pelo povo Kemet somente para fins estéticos, ou com finalidade de atrair amor, fortuna e sorte é uma simplificação típica da civilização europeia, destoando da Ciência Espiritual Africana: baseada no princípio da inter-relação cósmica, sacralização da natureza e na dimensão espiritual do ser humano. Nossa atual compreensão de saúde, doença e beleza está fundamentada principalmente em como a civilização europeia percebe a Natureza e produz conhecimento a partir dela. Leia o artigo na íntegra. Fonte: Instituto Búzios.
O agro não é pop: a farsa da “revolução verde”
Em 2019, o Brasil completa 12 anos liderando o ranking de maior consumidor de agrotóxicos do planeta. Mais de 60% dos alimentos produzidos contêm insumos agrotóxicos, e todos os anos são utilizados 7,3 litros de veneno para cada habitante do país. À primeira vista esses insumos parecem benéficos por maximizar a produção de alimentos; entretanto, seu uso causa malefícios à população em geral e principalmente aos agricultores, que têm contato direto com o veneno. E alternativas como o incentivo à agricultura familiar e à agroecologia vêm sendo esmagadas na Câmara dos Deputados pelas propostas do Ministério da Agricultura, aliado de grandes latifundiários brasileiros e multinacionais produtoras de agrotóxicos, como a Bayer (Alemanha) e a Monsanto (EUA). Leia a matéria completa. Fonte: Aventuras na História.
EXPEDIENTE
MÍDIA NEGRA E FEMINISTA
Boletim Eletrônico Nacional
Periodicidade: Mensal
EDITOR
Valdisio Fernandes
EQUIPE
Aderaldo Gil, Allan Oliveira, Aline Alsan, Atillas Lopes, Ciro Fernandes, Enoque Matos, Eva Bahia, Guilherme Silva, Graça Terra Nova, Kenia Bandeira, Keu Sousa, Josy Andrade, Josy Azeviche, Lúcia Vasconcelos, Luciene Lacerda, Lucinea Gomes de Jesus, Luiz Felipe de Carvalho, Luiz Fernandes, Marcele do Valle, Marcos Mendes, Mariana Reis, Mônica Lins, Ricardo Oliveira, Ronaldo Oliveira, Silvanei Oliveira.
Colaboradores: Jonaire Mendonça e Erica Larusa