Por Eduardo Paysan Gomes

Na sexta-feira, dia 18/09/2020, assisti ao documentário “Who Shot The Sheriff?” sobre a vida de Bob Marley, na Netflix. O mesmo revela uma realidade social de extrema violência, em um contexto político onde a Jamaica foi afetada pela Guerra Fria. Havia receio por parte dos Estados Unidos da América de que a Jamaica fosse influenciada politicamente por Cuba. Portanto, vemos que o cantor passou a ser vigiado pela Agência de Inteligência Americana CIA.

Apesar de notarmos a forte interferência do cantor Bob Marley,  sob influência religiosa do movimento Rastafári, o qual pregava a paz, ele próprio teve que deixar o seu país, em função das ameaças sofridas, tendo chegado a sofrer um atentado contra sua vida, em 1976.

Esses fatos históricos só nos fazem lembrar que a paz não é bem quista por aqueles que desejam lucrar com a guerra. E devemos lembrar, ainda, quais as vítimas maiores desse sério conflito armado, em sendo a Jamaica um país com maioria de pessoas negras. Havia duas gangues rivais, ligadas aos dois principais partidos, naquele país – os democratas e conservadores – e que geravam conflitos sangrentos entre as pessoas negras, pobres, das periferias, envolvendo, inclusive, um contexto de disputa pelo tráfico de drogas.

O documentário nos faz pensar sobre o contexto também denunciado pelo filme “O Senhor das Armas”, onde a venda de armas traz muito lucro à Indústria Bélica e, portanto, percebe-se que a paz não é interessante, nessa realidade.

É muito perturbador perceber que os fatos históricos vivenciados naquele país, naquela época, ainda são muito semelhantes ao contexto social e político vivido em países como o Brasil, permeado pela chamada “Guerra às Drogas”, que é responsável pelo conhecido Genocídio da Juventude Negra Periférica brasileira. Como é sabido, juntamente com o Tráfico de Armas, o Tráfico de Drogas e o Tráfico de Pessoas são os três negócios mais lucrativos do Mundo e envolvem o verdadeiro Crime Organizado. Todo lucro auferido de tais práticas retorna ao Mercado em forma de Lavagem de Dinheiro.

É importante ter clareza sobre tais elementos para não fazermos uma defesa “inocente” da Paz, pois estamos lidando com um sistema que estrutura o poder político e o poder econômico na nossa sociedade, daí porque é preciso pensar sobre as raízes do Racismo Estrutural. Nosso Sistema Capitalista é uma verdadeira “máquina de moer gente”. Quem morre é o jovem negro na favela como “aviãozinho” do Tráfico, enquanto quem lucra (e muito) são os donos dos “heli-cocas”, sem sequer serem arranhados pelo Sistema Penal. Na direção contrária, vários são os casos conhecidos de “enganos” praticados pela Política Militar ou demais órgãos de Segurança Pública, tirando vidas de muitos jovens negros inocentes, “confundidos” com traficantes.

Minha intenção não é de ser pessimista, mas realista e reforçar a premência de fortalecimento de movimentos sociais populares, que venham a questionar o racismo estrutural, como aquele que reitera que VIDAS NEGRAS IMPORTAM, na contramão de todo esse sistema que produz morte. Nos EUA, as pessoas negras, impulsionadas pelo Movimento BLACK LIVES MATTERS, gritavam SUA INDIGNAÇÃO: “NO JUSTICE, NO PEACE“. Ou seja: SEM JUSTIÇA NÃO HÁ PAZ!!

Esperamos, sinceramente, que a Sociedade Americana não se esqueça desses clamores no contexto do Processo Eleitoral que se aproxima e possa afastar, de vez, o Senhor da Guerra de lá, a fim de que possamos também acumular forças, aqui, para afastar, de vez, o nosso Senhor da Guerra, de cá, que, sabidamente, foi eleito com apoio da Indústria Bélica. Que tenhamos toda coragem necessária pra luta, pois sabemos que não será fácil. Nunca foi!

Fonte: Blog do autor.

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