A participação do ex-juiz nas negociações secretas colocam em alerta os movimentos sociais do Brasil. A notícia foi vazada ao Sentinel da Universidade Estadual de Kennesaw.
A presença do juiz Lava Jato e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sérgio Moro, em uma reunião privada bilateral EUA-Brasil sobre a floresta amazônica é motivo de preocupação. Sem cargo divulgado junto ao governo dos Estados Unidos ou do Brasil, quais interesses ele representa? A presença de Moro nessas reuniões da Amazon é incongruente para dizer o mínimo. Ele não é mais membro do governo brasileiro e não possui cargo divulgado junto ao governo dos Estados Unidos ou suas agências. Para quem ele está trabalhando? Quem ele está representando? Então, em que posição e em nome de quem Sérgio Moro está participando de negociações confidenciais entre os Estados Unidos e o Brasil sobre política ambiental? E para qual país?
Negociações a portas fechadas entre o governo Joe Biden e o regime de Bolsonaro enfrentam forte oposição; uma nova campanha exorta Biden a encerrar as conversações secretas sobre o futuro da Amazônia,depois que uma coalizão de 199 organizações da sociedade civil entregou uma carta ao governo dos EUA exigindo que quaisquer discussões sobre o futuro da floresta tropical incluam o povo brasileiro.
Leia a “Carta da Sociedade Civil Brasileira ao Governo dos Estados Unidos da América”
O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e desonrado juiz da Lava Jato levou o presidente de extrema-direita ao poder através da prisão arbitrária de Lula da Silva. Após a anulação das acusações contra Lula, Moro agora enfrenta investigação do STF pelo crime de parcialidade judicial na acusação e prisão do ex-presidente.
Na reunião virtual, com políticos, economistas, diplomatas e empresários brasileiros, o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, insistiu que a cúpula de líderes climáticos de Joe Biden na próxima semana seria “a última chance do Brasil mostrar sua preocupação ambiental, restaurar a confiança americana e expandir as relações com a Casa Branca”.
Recentemente, Moro formalizou uma posição de parceria/direção com a empresa de consultoria global Alvarez & Marsal, sediada nos EUA. Quando o contrataram, a empresa apresentou o ex-juiz como especialista em “investigações anticorrupção líderes” e “assessorando clientes sobre estratégia regulatória e compliance”.
A linha do tempo conhecida das conexões de Moro nos EUA data de quase 25 anos atrás. Muito antes de ser retratado heroicamente no New York Times e na revista Time, que o nomeou entre suas 100 pessoas do ano em 2016.
De um programa de intercâmbio na Harvard Law School em 1998, Moro participou do Programa Internacional de Liderança de Visitantes do Departamento de Estado dos EUA em 2007, “visitando agências e instituições dos EUA responsáveis pela prevenção e combate à lavagem de dinheiro”.
A partir de 2009, ele esteve ligado ao Projeto Pontes, um esforço secreto dos EUA de cooptação de funcionários públicos brasileiros para entregar objetivos geopolíticos revelados em cabos vazados do Departamento de Estado. A “colaboração informal” do DOJ/FBI surgiu do Projeto Pontes, e a investigação anticorrupção estava efetivamente operando como agência dos EUA, influenciando o cenário político para o impeachment de Dilma Rousseff, e a articulação de ações para evitar o retorno de Lula à Presidência dois anos depois.
Ao entrar no governo em janeiro de 2019, Moro acompanhou Bolsonaro à sede da CIA em Langley, a primeira visita desse tipo de um presidente brasileiro na história. Como chefe do novo ministério da Justiça e Segurança, Moro supervisionou a enorme expansão da jurisdição do FBI e chegou ao território soberano brasileiro, incluindo a criação dos chamados centros de coleta de inteligência Fusion. Em conversas vazadas, o procurador-chefe da Lava Jato, Deltan Dellagnol, chamou a prisão de Lula de “presente da CIA“.
Uma pista sobre o serviço que Moro prestará pode estar no que ele disse na reunião, em seu diálogo com o embaixador dos EUA Chapman. De acordo com o relato anônimo da reunião:
“Moro, por sua vez, perguntou se havia algo que o setor privado poderia fazer se o governo brasileiro não cooperasse com o meio ambiente, e ouviu de Chapman que muitas empresas americanas estão exigindo uma resposta mais agressiva sobre o meio ambiente, porque não querem pagar em nome dos envolvidos em ilegalidades e desmatamento.”
As empresas mais comprometidas no desmatamento da Amazônia são membros do lobby/think tank Council of the Americas de Wall Street, que está intrinsecamente relacionado ao Departamento de Estado, compartilhando muitos funcionários passados e atuais, e realizando seu evento anual em sua sede, o edifício Harry S. Truman.
O Conselho das Américas promoveu empenhadamente Sérgio Moro, a Lava Jato e a guerra contra a corrupção no Brasil e na América Latina, que proporcionou benefícios imediatos para seus membros, como Cargill, Blackrock, Rio Tinto e Chevron. Mesmo após os incêndios que varreram a região em 2019, até fevereiro de 2020, a revista americas quarterly publicou um artigo afirmando que “o plano amazônico de Bolsonaro tem razões reais de esperança“. No Fórum Econômico Mundial de Davos de 2017, o procurador-geral da República Rodrigo Janot disse aos participantes que a Lava Jato era “pró-mercado”,posição política que não deveria ter. Dois anos depois, com Bolsonaro no poder, o Departamento de Justiça dos EUA tentou conceder à força-tarefa da Lava Jato uma propina de US$ 672 milhões.
Independentemente da administração, republicana ou democrata, sempre que os Estados Unidos negociarem sobre a Amazônia, ela sempre estará em nome desses interesses corporativos entrincheirados, ao lado de quaisquer novas preocupações ambientais que possam ocupar as manchetes.
Nesse sentido, a participação de Moro nesta reunião talvez não seja surpreendente…
Fonte: Brasil Wire.