[Crédito: Éramos as cinzas e agora somos o fogo (diss), da série Pardo é Papel, 2019]
O artista carioca toca na ferida ao retratar negros ricos e poderosos em exposição.
Maxwell Alexandre apresenta sua mostra “Pardo é Papel” no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Nas obras, ele desenha pessoas negras em situações de poder, ocupando espaços da arte, recebendo diploma, ostentando riqueza. Tudo em um fundo que sempre foi usado para clarear ou minimizar a pele negra: o pardo.
Antes do Tomie, a individual do artista nascido na Rocinha – onde ainda mora e trabalha em seu ateliê – levou 60 mil visitantes ao Museu de Arte do Rio – MAR. Mas não só. Passou pela Fundação Iberê, em Porto Alegre, e antes ainda pelo Museu de Arte Contemporânea de Lyon, na França, onde debutou, em 2019.
O início de ‘Pardo é Papel’ remete a maio de 2017, quando o artista pintou alguns autorretratos em folhas de papel pardo perdidas no ateliê. Nesse processo, além da sedução estética potente, ele percebeu o ato político e conceitual que está articulando ao pintar corpos negros sobre papel pardo, uma vez que a “cor” parda foi usada durante muito tempo para velar a negritude.
“O desígnio pardo encontrado nas certidões de nascimento, em currículos e carteiras de identidades de negros do passado, foi necessário para o processo de redenção, em outras palavras, de clareamento da nossa raça”, conta o artista.
A virada de chave dentro do movimento negro, e abarcando mais e mais pessoas aconteceu com a internet, depois de muitas conexões, debates, tomadas de consciência e reivindicações das minorias. Assim, os negros passaram a ter poder sobre sua voz, a se entender nesta sociedade racista e se orgulhar da estética negra.
“Este fenômeno é tão forte e relevante, que o conceito de pardo hoje ganhou uma sonoridade pejorativa dentro dos coletivos negros. Dizer a um negro que ele é moreno ou pardo pode ser um grande problema, afinal, Pardo é Papel”, ressalta Maxwell.