Em nota pública a CONAQ denuncia tortura e humilhação de jovem quilombola pelas vias públicas de Portalegre-RN. A violência foi praticada por Alberan Freitas, comerciante bolsonarista e justiceiro. A CONAQ cobra os devidos encaminhamentos legais das autoridades judiciárias.
Para a CONAQ, a agressão foi motivada pelo RACISMO e a certeza de impunidade. O linchamento de jovens negros pela sociedade brasileira evidencia segregação racial e social tão presentes no dia-a-dia do povo preto do Brasil.
Acesse o vídeo [imagens chocantes]:
https://www.facebook.com/conaquilombos/videos/1033604484042911
“Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito… Onde estás, Senhor Deus?…”
Vozes d’África Castro Alves.
Leia a nota na íntegra:
E lá se vão mais de 500 anos e o nosso povo continua sendo torturado, humilhado e invisibilizado, morto pela sociedade brasileira. SIM, pela sociedade!
Pela sociedade na qual um jovem negro quilombola de 19 anos é amarrado, humilhado e arrastado pelas ruas da cidade porque um comerciante branco se intitulou justiceiro por conta de uma pedra jogada em seu “mercadinho”. Segundo informações no site da revista Fórum, Alberan Freitas, comerciante bolsonarista, espalhava difamação e calúnia contra o jovem pela cidade, o que o teria motivado a jogar a pedra.
Isso tudo aconteceu no último sábado, dia 11/09/2021, na cidade de Portalegre, município do Rio Grande do Norte. Aconteceu quando toda a imprensa mundial lembrava os 20 anos da queda das torres gêmeas e as pessoas se comoviam como se fosse hoje. Mas quem lembra os séculos de morte e dores sofridas pelo povo negro?
Quem se comove com o extermínio dos jovens negros e das jovens negras assassinados (as) nas periferias do Brasil afora?
Quem grita: BASTA?! Somos nós!
Nós que resistimos, nos articulamos, vivemos e gritamos: existimos e não seremos exterminados!
Não nos torturem, não nos humilhem, exigimos RESPEITO.
BASTA!
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) vem por meio desta Nota de Repúdio dizer BASTA!
Basta de sermos amarrados (as) e arrastados (as) pelas ruas e ninguém impede tamanha atrocidade!
BASTA de sermos assassinados (as)!
Conforme levantamento realizado pela CONAQ e disponibilizado no livro Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, nos últimos 04 (quatro) anos houve um aumento de 350% (trezentos e cinquenta por cento) de homicídios de quilombolas, cuja omissão e conivência do Estado Brasileiro é cada vez mais evidente!
Trata-se de uma política de extermínio da população quilombola orquestrada pelo atual Presidente da República. As iniciativas de alteração da legislação para armar fazendeiros, invasores e a elite branca, flexibilizando aquisição de armas em detrimento da inexistência de políticas públicas para as Comunidades Quilombolas demonstra o intuito ora denunciado pela CONAQ.
No presente caso, o indigitado comerciante valendo-se do discurso de ódio e da impunidade torturou, humilhou, arrastou pelas ruas da cidade, e não satisfeito ainda bateu no jovem quilombola da Comunidade Quilombola do Pega, com ajuda de outros munícipes, CONFIGURANDO CRIME DE RACISMO.
Donde fica demonstrada a total falta de respeito à vida, à dignidade e existência dos negros e negras que construíram esta nação. A sociedade brasileira deve ser lembrada todos os dias e todas as horas que somos nós, negros e negras, filhos e filhas da África, que fazemos parte do patrimônio imaterial deste país e continuaremos fazendo!
Éramos resistência, hoje somos existências e seremos amanhã a referência das próximas gerações!
Exigimos a devida apuração dos fatos por parte das autoridades públicas e o devido acompanhamento da vítima por serviços de assistência jurídica , social e psicológica.
Abaixo assinam esta nota, as seguintes entidades:
Afoxé Alafin Oyó
União dos Afoxés de Pernambuco
LACC – Laboratório de Estudos sobre Ação Coletiva e Cultura/ UPE
PNCS – Projeto Nova Cartografia Social, Núcleo Pernambuco
#PAREMDENOSMATAR – Pelo Fim do Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica
Movimento de empoderamento feminino Baque mulher
Nação do Maracatu Encanto do Pina
Grupo Mazuca da Quixaba
Pró Reitoria de Extensão e Cultura do IFSertãoPE
Associação quilombola Borda do lago agrovila 4 negros de Betinho
Coordenação Estadual de Articulação das Comunidades Quilombolas de Pernambuco.
Associação Quilombola dos Produtores Rurais do Território do Inhanhum
Quilombola urbana Tia Zala Mirandiba-PE
Associação Quilombola de Povoação de São Lourenço
Natanael Fernandes – Associação Quilombola de Povoação de São Lourenço
Associação da comunidade Quilombola do Engenho Siqueira, Rio Formoso
Associação da Comunidade de Remanescentes de Quilombo Saruê
Associação dos Quilombolas Pilões Tupanatinga PE
Associação quilombolas do Sítio Lopes
Associação dos agricultores e quilombolas do Sítio Sanharó
Associação da comunidade quilombola do Lambedor, Lagoa Grande-Pe
Associação quilombola Sítio Retiro, Iati-PE
Associação quilombola São Gonçalo Carnaubeira da Penha-PE
Associação quilombo Lagoa do Bento, Itaíba-PE
Associação Rural dos Quilombos Assentados da fazenda Serrotinho
Associação comunitária Negra do Imbé, Capoeiras-PE
Associação comunitária negros de Gilu de Itacuruba-PE
Itamar Lages – RG 2469671 SDS-PE
Programa de Residência em Saúde da Família do Campo da Universidade de Pernambuco
Wanessa da Silva Gomes , RG- 6317661 SDS PE
Programa de Residência em Saúde Coletiva e Agroecologia
Suely Emilia de Barros Santos, RG: 0150449399 SSP-BA
Programa de Residência em Saúde Mental – Garanhuns
Laboratório de Estudos em Ação Clínica e Saúde
Instituto Socioambiental (ISA)
Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins – COEQTO
Associação Quilombola Poço dos Cavalos -Itacuruba-PE
Associação Quilombolas Negros do Osso, Pesqueira-PE
Associação quilombolas Raiz Negros do Pajeú. Fazenda folha miúda, Floresta-PE
Associação Quilombola Mata de São José, Orocó – PE
Associação Quilombola de Conceição das Crioulas-AQCC, Salgueiro-PE
Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular
Coordenação das associações das comunidades remanescentes de quilombo do Pará – Malungu
Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar
Maré Socioambiental
Fonte: CONAQ.