Por Roanna Azevedo
Misoginia: sentimento de ódio, objetificação, depreciação, violência e aversão à mulher.
Vítima de uma sociedade que a impede de ocupar espaços e posições de expressão, liberdade e liderança, a mulher vive como objeto de dominação. Todos os dias, ela está sujeita a ser violada, censurada e perseguida graças a cultura da violência em que está inserida. Nesse sistema, a engrenagem principal que mantém tudo funcionando se chama misoginia. Mas como ela funciona exatamente?
O que é misoginia?
Misoginia é o sentimento de ódio, aversão e repulsa à figura feminina. O termo teve origem grega e nasceu da junção das palavras “miseó”, que significa “ódio”, e “gyné”, que significa “mulher”. Ela pode ser manifestada por meio de diversas práticas discriminatórias contra mulheres, como a objetificação, a depreciação, a exclusão social e, principalmente, a violência, seja ela física, sexual, moral, psicológica ou patrimonial.
É possível observar que a misoginia está presente em textos, ideias e obras artísticas ao longo de toda a civilização ocidental. O filósofo Aristóteles considerava as mulheres como “homens imperfeitos”. Schopenhauer acreditava que a “natureza feminina” era obedecer. Já Rousseau argumentava que meninas deveriam ser “educadas para a frustração” desde os primeiros anos da infância para que se submetessem com mais facilidade à vontade dos homens no futuro. Até Darwin compartilhou pensamentos misóginos, defendendo que as mulheres tinham cérebros menores e, consequentemente, menos intelecto.
Na Grécia Antiga, o sistema político e social vigente colocava a mulher em uma posição secundária, inferior aos homens. O genos, modelo familiar que conferia máximo poder ao patriarca, era a base da sociedade grega. Mesmo depois de sua morte, toda a autoridade do “pai” da família não era transferida a sua esposa, mas ao filho mais velho.
No final do período Homérico, houve o declínio da economia agrícola e o crescimento da população. Em seguida, as comunidades baseadas no genos se desintegraram em detrimento das cidades-Estados que acabavam de surgir. Mas essas mudanças não alteraram a forma com que as mulheres eram tratadas pela sociedade grega. Nas novas pólis, a soberania masculina foi reforçada, dando origem ao termo “misoginia”.
Existe diferença entre misoginia, machismo e sexismo?
Todos os três conceitos estão relacionados dentro do sistema de inferiorização do gênero feminino. Há alguns detalhes que especificam cada um deles, apesar da essência ser praticamente a mesma.
Enquanto a misoginia é o ódio doentio a todas as mulheres, o machismo é um tipo de pensamento que se opõe à igualdade de direitos entre homens e mulheres. Ele é expresso de forma naturalizada por opiniões e atitudes, como uma simples piada, que defendem a ideia de superioridade do gênero masculino.
Já o sexismo é um conjunto de práticas discriminatórias baseadas no gênero e na reprodução de modelos binários de comportamento. Ele procura definir como homens e mulheres devem se comportar, quais são os papéis que eles devem exercer na sociedade de acordo com estereótipos engessados de gênero. Segundo os ideais sexistas, a figura masculina está destinada à força e autoridade, enquanto a feminina precisa se entregar à fragilidade e submissão.
Misoginia é sinônimo de violência contra a mulher
Tanto o machismo quanto o sexismo são crenças opressoras, assim como a misoginia. O que torna a última pior e mais cruel é seu apelo a violência como principal instrumento de opressão. Homens misóginos costumam expressar seu ódio às mulheres cometendo crimes contra elas.
Após perder o direito de ser quem é, de exercer sua liberdade e manifestar seus desejos, sexualidade e individualidade, a figura feminina ainda é punida violentamente apenas por existir. A misoginia é o ponto central de toda uma cultura que coloca a mulher como a vítima de um sistema de dominação.
No ranking mundial de violência contra a mulher, o Brasil ocupa o quinto lugar. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2021, 86,9% das vítimas de violência sexual no país são do sexo feminino. Quanto à taxa de feminicídio, 81,5% das vítimas foram mortas por companheiros ou ex-companheiros e 61,8 % eram mulheres negras.
É importante lembrar que esses não são os únicos tipos de violência contra a mulher. A Lei Maria da Penha identifica cinco diferentes:
– Violência física: qualquer conduta que ameace a integridade física e a saúde do corpo da mulher. A agressão não precisa deixar marcas aparentes pelo corpo para ser enquadrada na lei.
– Violência sexual: toda ação que obrigue a mulher, por meio de intimidação, ameaça ou uso da força, a participar, presenciar ou manter relações sexuais não desejadas. Também é entendida como qualquer conduta que encoraje, ameace ou manipule uma mulher a comercializar ou utilizar sua sexualidade (prostituição), que controle seus direitos reprodutivos (induza ao aborto ou impeça de usar métodos contraceptivos, por exemplo), e que a obrigue a se casar.
– Violência psicológica: é entendida como qualquer conduta que cause dano psicológico e emocional à mulher, afetando seu comportamento e decisões, por meio de chantagem, manipulação, ameaça, constrangimento, humilhação, isolamento e vigilância.
– Violência moral: é toda conduta que ofenda a honra da mulher, seja por meio de calúnia (quando ligam a vítima a um fato criminoso), difamação (quando relacionam a vítima com um fato ofensivo à sua reputação) ou injúria (quando proferem xingamentos contra a vítima).
– Violência patrimonial: é entendida como qualquer ação que esteja relacionada ao confisco, retenção, destruição, subtração e controle, seja parcial ou total, dos bens, valores, documentos, direitos e ferramentas de trabalho da mulher.
Fonte: Hypness.