Entrevista: Txai Suruí

Por Hugo Albuquerque e Nathália Urban

Com o desmonte da fiscalização e o incentivo ao agronegócio, garimpo e madeireiros, o Brasil tem tido os piores índices de desmatamento sob o governo Bolsonaro. Mas os povos indígenas estão mais mobilizados do que nunca para defender as florestas e evitar o colapso climático. Essa é a avaliação da ativista indígena Txai Suruí na conversa que teve com a Jacobin Brasil.

A luta dos povos indígenas e originários é uma luta que não começou hoje e não terminará amanhã. Uma luta contínua que se iniciou com a chegada das caravelas dos colonizadores e é travada até hoje – sob a falsa democracia que se esconde o braço pesado do Estado.

Natália Urban e Hugo Albuquerque, da Jacobin Brasil, conversaram com Txai Suruí acerca da história, dos desafios e perspectivas da resistência indígena brasileira e latino-americana. Txai é ativista indígena da etnia Paiter Suruí e foi a primeira brasileira a fazer uma fala de abertura na COP 26. Por ter feito uma fala contundente denunciando a devastação da natureza e o genocídio do seu povo no Brasil, ela foi atacada pelo próprio Bolsonaro. Ela é a primeira indígena do seu povo a cursar direito e criou ano passado o Movimento da Juventude Indígena de Rondônia. A organização já tem aproximadamente 1,7 mil filiados.

Essa entrevista foi editada para clareza e concisão. A versão integral da conversa pode ser assistida aqui.


JB

Gostaríamos de parabenizá-la pela tua fala de abertura na COP 26 (Conferência das Partes). Foi uma coisa espetacular, teve uma força enorme. Um discurso forte, que elenca o papel dos povos indígenas na linha de frente da emergência climática.

Sabemos que para os povos indígenas sempre foi uma realidade de resistência desde a colonização, mas neste momento de governo Bolsonaro, com tudo o que vocês sofrem de ataques, da agenda anti-indígena no Congresso, a ofensiva do garimpo, a pandemia, depois com a Amazônia e o Pantanal  em chamas, ao ponto das cinzas chegaram até em São Paulo… Fale um pouco sobre o que é ser indígena e estar neste momento histórico.

TS

É um lugar de muita luta dos povos indígenas, além de toda política genocida que a gente vem sofrendo por parte desse governo, que traz um projeto de morte para os povos. Estamos na linha de frente lutando contra um sistema desigual que invade as nossas terras, que nos assassina, que coloca o gado dentro dos nossos territórios, que nos envenena através do garimpo. Hoje temos que lutar contra tudo isso. Essa é a resistência. Não que antes já não fosse, porque a verdade é que estamos desde o início da colonização resistindo – e continuamos lutando.

Eu digo que o colonizador veio e nunca foi embora, essa é a verdade. Com a chegada do colonizador, nossas terras foram invadidas e nossas vidas ameaçadas; não podíamos ter a nossa própria espiritualidade e nossos territórios foram destruídos. Mas, me digam vocês: não é isso o que acontece até hoje dentro dos territórios indígenas? E nós estamos aqui mostrando a força da sabedoria ancestral, a força daqueles que vivem milenarmente em harmonia com a natureza e que estão aqui para mostrar para ao mundo inteiro que há pessoas no Brasil que se importam com a agenda climática, que lutam pela vida. E continuaremos resistindo.

“Nunca vamos conseguir sair da mentalidade colonizadora enquanto não tivermos vozes diferentes falando.”

Então, acho que falar de ser indígena é falar de luta e de resistência. Apesar de tudo, estamos dando uma aula para o Brasil. Tivemos o Levante pela Vida e o Levante pela Terra, que foram mobilizações indígenas nacionais convocadas pelas grandes organizações indígenas do Brasil. O Levante pela Vida foi a maior mobilização indígena desde 1988, reunindo mais de 6 mil indígenas. Estamos dando uma aula para todo o mundo, sobre o que é a resistência, sobre o que é lutar contra esse sistema.

JB

Você falou sobre resistência, e além da delegação da Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros (APIB) na COP 26, há também a presença forte de várias nações indígenas que vão desde a América do Norte até a América do Sul, com os povos da Patagônia, os povos originários da América do Norte e todos eles com reivindicações muito parecidas às da APIB. Então parece que o projeto de genocídio indígena vai para além do governo Bolsonaro. Como você vê a relação da extrema direita com a política de destruição contra os povos indígenas do mundo?

TS

Não é só a gente que está vendo esse crescimento da extrema direita, não é só aqui no Brasil. Olhamos para a América Latina inteira, e vemos que isso está acontecendo também em outros países. Estamos passando exatamente por uma crescente da extrema direita, uma ofensiva desse sistema capitalista que só vê a floresta como lucro – e que passa acima da vida, principalmente daqueles que vivem a vida de uma forma diferente. Porque os povos indígenas têm uma visão diferente da vida. Para nós, a vida vai além do outro, além dos seres humanos: os animais são vivos, a floresta é viva, a terra é viva. E nós humanos não somos nem maiores nem menores, estamos aqui conectados na mesma linha. Mas as pessoas que estão dominadas pelo capitalismo, e a extrema direita que é inimiga dos nossos povos, não conseguem ver isso. Querem destruir quem pensa assim, destruir quem quer ver a floresta e o meio ambiente como uma esperança.

JB

Ao mesmo tempo que há uma repressão maior contra os povos originários, há também uma vanguarda dessa transformação, um encontro de um pensamento ocidental transformador, revolucionário, com os povos originários do continente. Isso aparece, por exemplo, no protagonismo do movimento indígena que temos visto na esquerda da Bolívia e do Chile. Como você vê a ação política dos povos originários em aliança com setores progressistas do mundo branco?

TS

O mundo branco progressista precisa olhar mais para a luta dos povos indígenas. Quem está na resistência, principalmente, somos nós. Tivemos o Levante pela Vida, que reuniu mais de 6 mil indígenas – e me desculpe pela crítica, mas vi poucas pessoas da esquerda lá. A esquerda ainda não está alinhada, não tem conseguido unificar na luta. Onde estava todo mundo? Os povos indígenas estavam ali, lutando contra todos esses desmandos, que vão ter consequências para a vida de todos.

Falar sobre o meio ambiente, mudança climática, sobre a situação dos povos indígenas, essa é a nossa causa mas, deveria ser de todo mundo, porque já está afetando a todos. É como eu falei: os indígenas estão dando uma aula de resistência, e a esquerda precisa aprender. Acho que nos organizando, articulando, e conversando vamos conseguir vencer, porque acredito que estamos lutando pela mesma causa.

JB

O que você disse é muito importante. E precisamos olhar não só para a mobilização indígena do Brasil, mas também em como essa luta se coloca na vanguarda da resistência contra todos os governos de extrema direita da América Latina. O governo Bolsonaro, por exemplo, tem feito lobby pela liberação da mineração em terras indígenas. E isso já é a realidade de muitos outros povos indígenas pelo mundo afora como, por exemplo, os mapuches no Chile, povos indígenas no Canadá e os povos nos Estados Unidos.

Você teve a oportunidade de conhecer na COP 26 em Glasgow aqueles que comandam a destruição mundial desses territórios do Sul Global, os diretores e presidentes das grandes corporações multinacionais. Como foi para você encontrar esses representantes do capital que estão fazendo lobby em favor da destruição dos territórios, pela mineração e pela exploração de combustíveis fósseis?

TS

Para os que defendem o meio ambiente, estar ali foi uma luta. Pareceu mais fácil para aqueles que são defensores do projeto da destruição estarem presentes na COP. A sociedade civil – as delegações de ativistas, inclusive a Coalizão Negra por Direitos, as organizações que defendem os direitos dos povos indígenas – só conseguiu estar presente por conta de muita articulação e luta. Mas quem foi representando os projetos de destruição teve uma facilidade maior de estar ali. E, na verdade, essas pessoas não querem conversar. Pelo contrário, é difícil encontrar essas pessoas. E quando encontramos com certeza cobramos muito.

Tive a oportunidade de conversar rapidamente com o ministro da Holanda, e com representantes de outros países que dizem ser favoráveis aos povos indígenas e críticos ao Bolsonaro. Mas esses países estão fazendo alguma coisa realmente em defesa das pautas indígenas? Falamos, por exemplo, de comércio: é muito fácil falar, condenar a destruição promovida pelo Bolsonaro, mas continuar comprando produtos do Brasil que vêm diretamente da destruição da Amazônia e do derramamento de sangue indígena. Foi algo que colocamos em discussão em Glasgow. Nos acordos colocam o respeito aos territórios indígenas, então que esses países não comprem esses produtos derivados da nossa morte, da destruição dos nossos territórios, porque assim continuam a colonização.

Que fique claro: esta não é só uma responsabilidade do Brasil, esses governos estrangeiros também precisam estar comprometidos com a pauta. É muito fácil excluir o Bolsonaro e continuar comprando o produto que vem da destruição da Amazônia.

JB

Nos fale um pouco sobre o seu povo: onde ele se situa? Qual o território que ocupa e qual a situação hoje diante nessa ofensiva? 

TS

Sou do povo Paiter Suruí, que significa “gente de verdade” na língua Tupi Mondé e venho da Terra Indígena Sete de Setembro, que fica em Rondônia, um dos Estados mais bolsonaristas do Brasil. O agro domina e tem mais boi que gente no Estado. Minha terra começa em Rondônia e acaba no Mato Grosso, e dentro dela tem 28 aldeias. Hoje, o meu território é afetado pelo garimpo e pelo arrendamento de terras.

Trabalho na Kanindé, uma organização que atua há mais de 29 anos com povos indígenas, bem conhecida por ser combativa e enfrentar todos esses desmandos. É uma organização que luta pela questão dos direitos dos povos indígenas, fundada para trabalhar com o povo local da terra indígena Uru-eu-wau-wau, que é uma das terras indígenas do Brasil que está sob muita pressão, sofrendo ataques. Os principais lugares onde isso acontece é a terra dos Yanomami Munduruku, a Terra Indígena Uru-eu-wau-wau e mais três povos em isolamento voluntário porque muitas vezes a gente esquece de falar dos povos indígenas em isolamento voluntário que também estão sofrendo muito com isso.

Quando eu cheguei na COP 26 tive a notícia de que dois indígenas isolados foram mortos na terra indígena Yanomami por garimpeiros. E isso não é diferente do que está acontecendo nas outras terras indígenas, como na terra indígena Uru-eu-wau-wau, que é a maior terra indígena do Estado de Rondônia. Lá nasce os 17 principais rios que abastecem o Estado e aí mostramos a importância das terras indígenas para a cidade porque, sem essa terra não tem água, sem a Amazônia não tem clima, a floresta amazônica faz esse papel essencial do equilíbrio climático. Lá tem grileiros, invasores, madeireiros e caçadores.

“Vemos as consequências das mudanças climáticas, pois está muito mais quente e as plantações já não florescem como antes, tem plantas medicinais que servem para nossa espiritualidade e para a nossa cultura.”

Visitamos uma invasão nessa terra indígena onde tinha uma área de muitos hectares destruídos de terra com um curral dentro e mais de 6 mil cabeças de gado em uma única parte da terra indígena. Hoje, a cabeça de gado está custando 5 mil reais, então, fazendo as contas, 6 mil cabeças de gado dá 30 milhões de reais. Portanto, é gente pobre que coloca gado dentro da terra indígena? Não é. E para onde essa carne está indo? Vai para a Europa e por isso esses países também têm responsabilidade. O couro que sai desse gado também vai para os Estados Unidos, para fazer bancos de carro. Então, essa é a realidade que estamos passando.

Também dentro dessa mesma terra, onde acontece o garimpo na área dos indígenas isolados, a população andava contando que escutaram bombas. Sem contar as outras terras indígenas que também estão passando pelo garimpo, e que também estão sofrendo com o desmatamento e as queimadas, praticadas pelos madeireiros ilegais. Tivemos um relatório do IPAM, onde aponta que em outubro de 2021 foi o segundo pior outubro de desmatamento com os maiores índices de queimadas dentro das terras indígenas e a gente sabe que já estamos sofrendo com as consequências das mudanças climáticas.

Durante os quatro dias em que eu estive em Glasgow, houve um tornado na minha cidade que destelhou tudo, coisa que nunca aconteceu antes. Vemos as consequências das mudanças climáticas, pois está muito mais quente e as plantações já não florescem como antes, tem plantas medicinais que servem para nossa espiritualidade e para a nossa cultura, que não encontramos mais e essas pessoas estão pensando em 2030, 2050. Temos que começar a agir agora, o mundo precisa acordar.

JB

E como está a relação com o Exército? Os militares hoje em dia têm mais espaço no governo do que nos 21 anos da ditadura militar. E temos todo esse histórico problemático com o processo de colonização do Brasil com o Exército colonial português. Então, como está essa relação hoje?

TS

Os principais órgãos hoje em dia quando falamos de meio ambiente, estão sendo ocupados por militares. O governo do Estado de Rondônia, por exemplo, é ocupado por um coronel e a Funai também. Então, a maioria desses órgãos que estão sendo ocupados por militares, essas pessoas não estão preocupadas com o meio ambiente. Elas sequer sabem discutir o que é o meio ambiente.

Muitas vezes sequer veem os povos indígenas como gente, com aquela visão religiosa de que não temos alma. É muito complicado, tem militar em tudo, inclusive na área da saúde indígena, mas como um militar sabe cuidar da saúde indígena? Vimos as consequências disso: os povos indígenas foram os mais afetados pela pandemia.

JB

Algo que me emocionou bastante nos protestos em Glasgow foi ver parte da delegação de militantes colombianos levantando a placa pelos seus companheiros que foram assassinados em prol do meio ambiente. E você levantou o nome de um amigo seu que foi assassinado também protegendo o meio ambiente. Então, queria saber como é que os povos do norte estão lidando com as denúncias que vocês fizeram na COP 26 em relação ao genocídio?

TS

Como falei antes, trabalho na terra dos Uru-eu-wau-wau, mas na verdade eu também cresci lá. Minha mãe trabalhou com esse povo antes mesmo de eu nascer e passei mais momentos da minha infância lá do que na minha própria terra, cresci com essas pessoas. A minha mãe amamentou muitos deles, e uma dessas pessoas era ele, o meu amigo assassinado.

Sabemos o porquê disso ter acontecido: ele foi um guardião da floresta, era o protetor do seu território e até hoje não houve resposta do poder público de como isso aconteceu. Há mais de um ano que ele foi brutalmente assassinado e o seu corpo foi encontrado quase na entrada da aldeia e até hoje a comunidade está abalada.

Isso não está acontecendo só no Brasil, mas na América Latina inteira, com todos os povos indígenas e originários. Precisamos gritar que estamos passando por um genocídio. Por isso, acho importante essa coalizão de povos indígenas brasileiros com os povos de outros países da América Latina. As pessoas que estão no Norte Global não sabem o que está acontecendo, e quando falamos sobre elas ficam chocadas. Agora se eles vão fazer alguma coisa eu não sei.

JB

O Brasil não conhece o Brasil. Como é que você vê isso? Porque aqui em São Paulo, choveu cinzas, as pessoas ficaram atônitas e se sabe muito pouco sobre o que se passa na Amazônia – nem sequer sabem ou muitas vezes se cria uma distância absurda. Temos povos originários aqui com a luta no Pico do Jaraguá na zona sul e isso é frequentemente ignorado também. Então são distâncias que se constroem.

Como você vê a questão de um boicote internacional ao Brasil? Será que não era hora dos movimentos sociais e dos partidos levarem em consideração um boicote interno e começar a pesquisar, por exemplo, do que é e de onde é que vem certos produtos e da necessidade de construir um boicote solidário de resistência dentro do país contra esse tipo de coisa que tem sido feita. Vocês trabalham nessa direção de uma campanha de boicote?

TS

Hoje os povos indígenas são invisibilizados dentro do próprio país. O lugar onde a gente vive, é um lugar que não nos escuta. E sim, tem povo indígena aí em São Paulo, não é só na Amazônia. E eu acho que a gente tem que começar a pensar nisso também porque, além desse gado ir para a Europa, ele vai principalmente para o prato do povo brasileiro que está comendo a carne, que está investindo e patrocinando a destruição do nosso próprio país.

“O agronegócio precisa de água da chuva e sabe de onde vem a chuva? Da floresta amazônica. Sabe quem está segurando a Amazônia e lutando por ela? São os povos indígenas. Então, é o Brasil e o próprio agronegócio que precisa dos povos indígenas.”

Depois que o Bolsonaro me atacou, recebi várias mensagens racistas, misóginas e de ódio nas redes sociais e algumas mensagens eram também no sentido de que eu deveria apoiar o Brasil. Mensagens dizendo: “O agronegócio que alimenta o povo, o agronegócio que alimenta as pessoas e vocês estão querendo acabar com isso”. Essas pessoas precisam pensar um pouco mais além, porque o agronegócio precisa de água da chuva e sabe de onde vem a chuva? Da floresta amazônica. Sabe quem está segurando a Amazônia e lutando por ela? São os povos indígenas. Então, é o Brasil e o próprio agronegócio que precisa dos povos indígenas. Se nem eles verem isso, estão fadados ao próprio fim. O capitalismo está se dando o próprio fim.

Precisamos pensar que falamos muito no fim do planeta, mas que no fim o planeta vai ficar, e nós vamos acabar. Então, estamos nos autodestruindo, ninguém pensou nisso. Os povos indígenas estão gritando, quantas vezes eu falei sobre certos produtos que estamos usando, que vem da destruição da Amazônia e que isso vai afetar todo mundo. Não é de hoje que os povos indígenas falam sobre isso, e estamos falando principalmente do Brasil. Será que precisamos falar mais? Ou será que as pessoas precisam ouvir mais? E eu volto sobre o Levante pela Vida, onde estavam as pessoas para se juntar a essa luta? Estamos aqui, e estamos dando várias soluções sustentáveis, colocamos em prática milenarmente, e não são só ideias para adiar o fim do mundo, são as soluções. Estamos segurando a queda do céu e todo mundo precisa se unir.

JB

Você comentou sobre os ataques que você sofreu pelo Bolsonaro e eu queria saber como está sendo para você essa atenção que está recebendo da mídia internacional e da mídia nacional. E como está lidando com esses ataques de cunho racista? Tem alguma maneira das pessoas poderem apoiar vocês e outros indígenas quando sofrerem esse tipo de ataque?

TS

Depois do discurso já recebi essas mensagens e eles agem realmente como uma quadrilha para atacar, é algo organizado. Às vezes eu só queria estar curtindo a minha juventude, mas eu estou aqui lutando e muitas vezes vai ser difícil pra gente. Fiquei abalada psicologicamente por causa de mensagens racistas, não pensam na saúde mental dos povos indígenas. Você vê isso sendo pouco falado, sobre a nossa saúde mental. Vejam a nossa realidade de racismo, de ameaça às nossas vidas, de invasão às nossas terras, do assassinato das nossas pessoas queridas. Mas, depois da tristeza, fiquei com raiva e pensando no que fazer. E tive uma ideia, separei quatro fotos da invasão do Uru-eu-wau-wau – postei no meu Instagram, aproveitando a visibilidade e engajamento que estavam me dando e denunciei o que está acontecendo. Esse foi o meu jeito de responder a tudo isso.

Uma maneira de ajudar é dar voz pra gente porque ainda somos muito invisibilizados. Precisam ouvir mais vozes indígenas e nos apoiar, assim como as nossas organizações, existem muitas campanhas e sites, é preciso dar cada vez mais espaço aos povos indígenas. Nunca vamos conseguir sair da mentalidade colonizadora enquanto não tivermos vozes diferentes falando. É isso que estamos fazendo,  demarcando esses espaços e a política. Fogo nos racistas. Floresta em pé, fascismo no chão.

Sobre os autores

 

é ativista e líder indígena da etnia suruí. Ela é coordenadora do Movimento da Juventude Indígena e trabalha na organização não governamental de defesa dos direitos indígenas Kanindé.

 Hugo Albuquerque

é publisher da Jacobin Brasil, editor da Autonomia Literária, mestre em direito pela PUC-SP, advogado e diretor do Instituto Humanidade, Direitos e Democracia (IHUDD).

 

Nathália Urban
é uma jornalista independente e comentarista política, anti-imperialista. Nascida no Brasil mas radicada na Escócia.

Fonte: Jacobin Brasil.
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