Por David Brooks | Tradução de Beatriz Cannabrava.
País é campo de batalha entre progressismo – por maior bem-estar social da população – e neofascismo – alinhados a supremacismos e conservadorismos.
A atual batalha titânica pelo futuro do país mais poderoso do mundo, boa parte da qual nasce das consequências do neoliberalismo, está sendo travada todos os dias ao longo e ao largo do país entre forças democratizadoras e partidárias de um neofascismo.
Por um lado, as forças progressistas estadunidenses que estão em um de seus momentos mais fortes (embora fragmentado) em décadas, com uma crescente presença eleitoral no nível local, estadual e nacional – o chamado Caucus Progressista do Congresso federal tem quase 100 membros, algo sem precedentes. Enquanto isso, em diversas cidades, condados e estados, foram eleitos elencos de políticos progressistas. Por outro lado, há lutas sociais com nova vitalidade no âmbito sindical, ambiental e em defesa de direitos de imigrantes.
Vale repetir ainda que uma maioria de jovens estadunidenses dizem que favorecem o socialismo sobre o capitalismo, e como foi o caso durante anos, maiorias neste país continuam favorecendo propostas progressistas na saúde, educação, direitos trabalhistas, migração e meio ambiente.
Pelo outro lado, a ofensiva direitista feroz com suas tinturas neofascistas – incluindo suas forças paramilitares armadas, algumas das quais participaram já em uma primeira tentativa de golpe de Estado – continua atacando frontalmente as liberdades e direitos civis e seus defensores.
No nível local e estadual, impulsionam novas leis para proibir o aborto e perseguir as mulheres (e meninas), implementam medidas para censurar versões “anti patriotas” da história nas classes e, nas bibliotecas, promovem a aberta supressão do voto de minorias e opositores, incluso reformando o sistema eleitoral estadual para reverter resultados não desejados (o que põe em risco as eleições federais já que são administradas no nível estadual).
No nível federal, agora com seu controle da Suprema Corte, está desmantelando conquistas sociais e políticas logradas ao longo de meio século, enquanto não cessam de nutrir o clima anti-imigrantes e a xenofobia. Vários especialistas advertem que estas forças estão semeando as condições para provocar uma guerra civil.
“O que estamos testemunhando nos Estados Unidos não é só uma ameaça à democracia, mas sim uma expressão modernizada e perigosa de extremismo direitista que é prelúdio de uma versão plena de políticas fascista”, resume Henry Giroux, professor na Universidades McMaster, e comentarista sobre educação, política e cultura.
Angela Davis, a grande veterana de lutas progressistas, comenta que “o que estamos testemunhando… é um choque profundo entre as forças do passado e as forças do futuro… é um esforço por parte das forças supremacistas brancas para recuperar um controle que mais ou menos tinham no passado”.
No meio desta batalha, uma maioria de estadunidenses opinam que seu sistema de governo não funciona, com 58% que pensa que se requer reformas maiores ou uma renovação estrutural, segundo uma enquete do New York Times/Siena College divulgada na semana passada.
Enquanto isso, metade dos republicanos e 64% dos democratas preferem que seus respectivos líderes – o presidente Biden e o ex-presidente Trump – não se candidatem para as próximas eleições presidenciais de 2024, segundo a mesma enquete.
As taxas de desaprovação das instituições políticas, começando por cada um dos três poderes federais – o executivo, o legislativo e o judicial – continuam se deteriorando gravemente. A confiança nos meios noticiosos caiu a seu ponto mais baixo jamais registrado: 26%, segundo o informe mais recente do Instituto Reuters.
Os Estados Unidos nunca antes enfrentaram uma ameaça fascista destas dimensões, mas ao mesmo tempo as forças democratizadoras e de resistência contra a direita nunca estiveram potencialmente tão fortes nessas últimas décadas. Não há neutros nesta batalha.
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.