O Instituto de Referência Negra Peregum e o Projeto SETA (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista) lançaram a pesquisa inédita “Percepções sobre o racismo no Brasil”. A pesquisa foi realizada pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), com o objetivo de evidenciar a importância de compreender o olhar da população brasileira sobre o racismo e assim construir caminhos mais sólidos para uma sociedade verdadeiramente antirracista. O estudo contou com a participação de 2 mil pessoas com idade entre 16 a 34 anos a fim de entender a opinião da população brasileira relativa à percepção sobre racismo.
Os números são contundentes, 44% da sociedade brasileira reconhece que raça, cor e etnia como os principais fatores geradores de desigualdades no país, e mais da metade (51%) já presenciou alguma situação de racismo. A pesquisa mostra que 81% creem que discriminação aprofunda desigualdade, mas só 11% reconhecem o próprio preconceito. Os dados deixam evidente que a democracia racial não é mais uma crença hegemônica no país.
O intervalo de confiabilidade da pesquisa é de 95% e a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O estudo de abrangência nacional foi realizado em 127 municípios brasileiros das cinco regiões do país durante o mês de abril de 2023.
O Instituto de Referência Negra Peregum destaca a importância do uso de dados para a compreensão da sociedade brasileira e para a construção de políticas públicas eficazes. Para Vanessa Nascimento, diretora executiva do Instituto de Referência Negra Peregum, a falta de informações precisas e atualizadas de dados que norteiam as políticas públicas ainda é um problema crônico no Brasil: “Nesse contexto, uma pesquisa como a que estamos lançando é de fundamental importância prática e simbólica. Os dados aqui reunidos certamente apoiarão as ações de incidência política, subsidiarão as articulações da sociedade entre seus pares e com o poder público, como para ações específicas para mulheres negras”.
O paradoxo
A pesquisa realizada em todo território nacional revela contradições na percepção da população brasileira perante as manifestações do racismo, como também, uma ausência de compreensão das diversas ramificações do racismo em nossa estrutura social. Segundo o estudo, a principal forma de identificação da manifestação do racismo pela população brasileira é a violência verbal, como xingamentos e ofensas (66%), seguida de tratamento desigual (42%) e violência física, como agressões (39%).
O racismo praticado nas relações interpessoais é identificado como a principal forma de descriminação, contudo, ainda assim, o brasileiro parte de uma negação da existência de práticas racistas com pessoas próximas e em espaços de convívio cotidiano. 81% concordam totalmente ou em parte que o Brasil é um país racista, mas apenas 11% afirmam que têm atitudes ou práticas racistas, 10% que trabalham em instituições racistas, 13% que estudam em instituições educacionais racistas, 12% que sua família é racista, 36% que convivem com pessoas que têm atitudes racistas e 46% que convivem com pessoas que sofrem racismo.
O Instituto de Referência Negra Peregum ressalta que é nítido como a dimensão interpessoal permanece sendo a principal forma de identificação das práticas racistas e há um desafio, a partir dessa coleta de dados, em incidir culturalmente para ampliar a compreensão da manifestação do racismo por vias institucionais, estruturais e sistêmicas.
“O movimento negro denuncia há décadas o mito de que a democracia é igual para todos no Brasil, principalmente para jovens entre 16 e 24 anos, faixa etária mais impactada pelo racismo. O próximo passo é avançar na qualificação deste debate, pois, como já dizia Lélia Gonzalez, o racismo no Brasil é profundamente disfarçado”, comenta Márcio Black, coordenador de projetos do Instituto de Referência Negra Peregum.
Acesse a pesquisa:
“Percepções sobre o racismo no Brasil”
Fonte: Instituto Peregum.