Publicação apresenta um panorama histórico com registros que revelam a vida cotidiana da população negra a partir de 1888 até os dias atuais, reconta diferentes experiências subjetivas e coletivas que formaram conexões de lutas por direitos, solidariedade antirracista e afirmação da vida negra, inclusive com cultura e lazer, como forma de resistência.
Reunindo os conteúdos da exposição realizada de 04 de junho de 2022 até 27 de agosto de 2023, o Memorial da Resistência lançou, em parceria com a Fundação Friedrich Ebert Brasil (FES), o catálogo digital da mostra Memórias do Futuro: Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência, já disponível para download!
A publicação apresenta ao público um panorama histórico de mais de um século de luta por direitos da população negra no estado de São Paulo, através de documentos, fotografias, cartazes , obras de arte e textos de parede. Os materiais são resultado de uma extensa pesquisa do sociólogo, escritor e curador da exposição, Mário Augusto Medeiros da Silva, com o apoio da historiadora Pâmela de Almeida Resende e da pesquisadora Carolina Junqueira Faustini.
Assim como na exposição, o catálogo é dividido em oito eixos, e apresenta cartazes, jornais, documentos da repressão, manifestos, fotografias e artes visuais cedidas por organizações e coletivos parceiros, como a Coalizão Negra por Direitos, a revista O Menelick 2º Ato, as Capulanas Cia de Arte Negra e o Ilú Obá de Min, e por arquivos e acervos de cultura negra, como AEL – Unicamp, Arquivo Público do Estado de São Paulo, Museu da Imagem e do Som, Pinacoteca do Estado, e Condephaat.
Assim como na exposição, as experiências coletivas são divididas oito eixos, que transitam entre a os territórios negros do estado, os espaços de sociabilidade, o papel da imprensa negra para a organização e circulação de ideias, os períodos de repressão, de redemocratização e a tripla opressão enfrentada pelas mulheres negras.
“O catálogo Memórias do Futuro: Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência é uma importante contribuição sobre a história da luta antirracista ao longo do século 20 e início do século 21 no Brasil. A busca por espaço, reconhecimento e representação da população negra é abordada por meio de trajetórias, movimentos e instituições que protagonizaram a disputa na esfera pública e contribuíram para que os direitos políticos e sociais fossem garantidos a todas as pessoas, independente de raça, gênero, religião e outras diferenças.
No entanto, as conquistas presentes no marco institucional nem sempre têm a materialidade necessária na vida das pessoas. Por isso, entre entidades religiosas, grupos culturais e organizações políticas, encontramos em comum a ação de denúncia contra o racismo, a reivindicação para a efetivação plena dos direitos e da cidadania, a afirmação positiva da cultura e da identidade negra e a troca de afetos para continuar reexistindo e lutando. É a experiência racializada comum que produz marginalidades e arregimenta essas pessoas e grupos em torno do ideal de igualdade, que se traduz em textos de jornais, poesias, músicas e imagens.
Essa publicação demonstra, por meio da atuação dos movimentos sociais negros, que o fazer político não é algo cartesiano e definido em salas fechadas. A organização política em defesa dos direitos fundamentais está presente também na ação de uma irmandade religiosa, nos festejos tradicionais, em clubes recreativos, em rodas de samba e nos mecanismos de comunicação. Essas são, inclusive, demonstrações de que o diálogo e a participação devem acontecer em diversos espaços e de múltiplas formas – não dissociados de outras esferas da vida. Para a população negra, as dimensões do cotidiano dão sentido à frase: viver é um ato político.
Diante disso, é com grande satisfação que a Fundação Friedrich Ebert Brasil (FES) apoia esse projeto. Fundada em 1925, a FES é uma organização alemã regida pelos ideais e valores fundamentais da democracia social – liberdade, justiça e solidariedade. Atua no Brasil desde o final dos anos 70 com foco na defesa e fortalecimento da democracia, na promoção do desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável, na luta pela justiça racial e de gênero, na contribuição da paz e da segurança e na construção de uma globalização solidária.
O trabalho de pesquisa que se materializa na exposição realizada pelo Memorial da Resistência de São Paulo e nesse catálogo aponta para a importante participação dos movimentos sociais negros no processo de consolidação e fortalecimento da democracia brasileira. Uma democracia que, a partir da ação desses sujeitos, se constrói com o enfrentamento das desigualdades e do racismo, na base do que se compreende como justiça social.
Christoph Heuser Representante da Fundação Friedrich Ebert (FES) no Brasil.
Jaqueline Santos Diretora de Justiça Racial e de Gênero da Fundação Friedrich Ebert (FES) no Brasi.”
Faça o download da versão digital:
> Catálogo digital Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência SP
Fonte: Memorial da Resistência e FES Brasil | Edição: Valdisio Fernandes, Instituto Búzios.