Introdução
A nova onda progressista latino-americana tem criado uma grande expectativa na esquerda, não só no continente, mas em todo mundo. Sabemos da importância de vitórias institucionais contra a extrema direita no âmbito das eleições presidenciais, mas mesmo quando isso ocorre, ainda há um longo e árduo caminho para enterrar o neofascismo que, para além dos governos, tem se posicionado cotidianamente de forma organizada em diversas frentes, absorvendo parte significativa da classe trabalhadora para um projeto de morte.
Este dossiê traz um panorama geral sobre a política, a economia e o debate cultural da extrema direita na América Latina, a partir de reflexões, pesquisas, ações políticas e das experiências vividas pelos escritórios latino-americanos do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.
O documento debate o avanço do neoliberalismo em todo o continente, suas consequências sobre a realidade material da classe trabalhadora e os mecanismos ideológicos e culturais deste modelo econômico para convencer parte significativa dos setores populares a defender um projeto em que eles são as principais vítimas. Esses discursos não foram levados a cabo pela direita “tradicional” ou “moderada”, dado sua atuação distante do campo popular. A conexão entre a direita e as classes populares foi alcançada na mais nova fase do neoliberalismo, que traz consigo uma atuação mais radical e populista denominada de neofascismo.
Vivemos, portanto, um momento histórico de paralisia entre as forças sociais e seus projetos de mundo, pois nem o neoliberalismo, nem o progressismo atual – sem um viés revolucionário – conseguem apresentar um horizonte de futuro para os trabalhadores e trabalhadoras que não seja o regresso às políticas das últimas três décadas. Para o teórico e ex-vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, vivemos um “estupor coletivo, de uma certa paralisia, em que o tempo parece estar suspenso”.
Mais do que olhar para essas realidades de forma distanciada, este dossiê pretende contar experiências concretas de enfrentamento vividas nos países latino-americanos para elaborar um olhar regional e pensar em um projeto comum de superação das questões estruturais que atingem o continente. Sendo assim, este documento é um convite para a criação de novos espaços de debate, de formação e de luta de forma contínua e integrada.
Fonte: Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.