Por Anna Karina Cavalcante
A luta pela paridade de gênero não é uma pauta nova. Mas diante de um mundo tão machista e misógino, fortalecido por laços de desigualdades, onde prevalece a opressão e a exploração, avançar sobre a paridade de gênero tornou-se, mais que uma pauta a mais entre tantas todas, e sim, uma necessidade urgente e histórica, infelizmente, muito difícil de ser alcançada e que já custou e continua custando a vida de inúmeras mulheres.
Na passagem histórica mais conhecida do estabelecimento do capitalismo moderno, a Revolução Francesa de 1789, Olympe de Gouges, mulher feminista que defendia direitos iguais para homens e mulheres foi aprisionada e morta na guilhotina por levar adiante essa defesa, em um dos episódios mais marcantes da luta feminista entre vários da nossa história moderna. E foi assim no governo jacobino (de esquerda) e segue sendo em tantos e tantos governos até os dias de hoje.
Quando olhamos pra países, mesmo onde o capitalismo é o liberal mais desenvolvido não é incomum encontrarmos muita desigualdade de gênero. Desigualdade essa que garante a exploração de mais da metade da população do planeta, nós mulheres. Essa desigualdade pode ser notada em todas as esferas da vida social, sobretudo quando se trata de poder. A própria Organização das Nações Unidas, a ONU, tem cartilha sobre paridade de gênero, então essa pauta é possível em países capitalistas, porém quando nos deparamos na vida real, essa realidade exige uma série de lutas que nos mostre que o caminho a se chegar até a paridade de gênero na política é longo, muito longo. Haja fortalecimento e crescimento do feminismo para nos colocar no caminho certo.
No Brasil, nós mulheres, ainda que sejamos a maioria da população, somos 15% das eleitas aos espaços de poder da democracia liberal.
No Brasil, nós mulheres, ainda que sejamos a maioria da população, somos 15% das eleitas aos espaços de poder da democracia liberal. Quando o assunto é mulher nos espaços de decisão, o Brasil fica atrás de praticamente todos nossos vizinhos da América Latina. A Argentina iniciou a aprovação de paridade nas candidaturas políticas em 2017, o que permitiu avançar em outras pautas sobre a vida das mulheres e recentemente, em 2020, avançou na paridade nos meios de comunicação. O México, mesmo concentrando altas taxas de feminicídio e de desaparecimento de mulheres, começou a avançar na paridade em 2014 quando os partidos políticos tiveram que incluir a paridade de gênero nas candidaturas. Cinco anos depois, em 2019, o México aprovou a obrigatoriedade de 50% de mulheres em todos os cargos públicos, no judiciário, legislativo e executivo, nos órgãos públicos federais, estaduais e municipais. Na Colômbia também se aprovou a paridade de gênero (50% mulheres e 50% homens) em dezembro de 2020.
O caso mais recente vem acontecendo no Chile, o que demonstra que o fortalecimento e o crescimento do movimento de mulheres chilenas impulsionou a paridade de gênero no processo de constituinte em 2021. Mulheres foram as mais votadas para fazer parte da elaboração da Constituição chilena, a primeira no mundo a ser escrita por mulheres e homens em igual proporção. Dois mil e vinte um foi também o ano em que o Chile findou com um processo eleitoral histórico, colocando na presidência do país um jovem de esquerda, Gabriel Boric, que acaba de compor seu ministério com 14 mulheres e 10 homens.
E por que é tão importante a paridade de gênero? Para avançarmos na participação das mulheres nos lugares onde se decide a vida de todas e todos, avançando assim na democracia, no combate a violência fruto da desigualdade e nos direitos humanos e por isso sociais. Mesmo sendo uma analogia, mas precisamos dar nome as coisas como são para não perdermos o caminho, não precisamos de ventos ou brisas chilenas, precisamos fortalecer o feminismo e avançar nas bandeiras defendidas pelas mulheres.
Fonte: Esquerda Online.