Nunca na história desse país houve tantos brasileiros morando no exterior. Segundo dados do Itamaraty divulgados em setembro do ano passado, o número de expatriados cresceu 35% entre 2010 e 2020, passando de 3,1 milhões para 4,2 milhões. A Sputnik explica por que isso preocupa tanto as principais associações científicas do país.
Bolsas congeladas
Impacto da fuga de cérebros
“O impacto é significativo. Porque junto com a fuga de cérebros vem a perda de muitos equipamentos que a gente tem. Por exemplo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que fica no Vale do Paraíba. O INPE tem 70% dos seus pesquisadores com direito à aposentadoria. Não se aposentam porque querem continuar a trabalhar, mas se o fizerem, praticamente fecha o INPE. Lá há um setor de lançamento de foguetes, que está praticamente parado. Está praticamente sem gente, então você passa a uma série de problemas que não são só o da fuga de cérebros”, avaliou ele.
“Em seguida, você tem a falta de recursos para contratar pessoas, falta de recursos para equipamentos, falta de recursos para ampliar o sistema universitário brasileiro, e isso fica muito claro quando o ministro Paulo Guedes reclama que estão se formando engenheiros demais no Brasil. E diz: ‘engenheiro andando no Uber é sinal que tem engenheiro demais’. Ele está totalmente errado, porque não é que tem engenheiro demais. É que a economia está fraca. Se a economia estivesse boa, a economia estaria colocando todo esse pessoal que se forma no mercado de trabalho. Porque cada vez que você tem um avanço econômico no Brasil, você sente falta de mão de obra qualificada. Aconteceu várias vezes e vai voltar a acontecer se continuarem as coisas assim”, criticou o presidente da SBPC.
“O Brasil financiou muito da formação — mesmo quando eles fizeram faculdades particulares porque a Capes financia alunos até mesmo em faculdades privadas. O Brasil colocou dinheiro na formação dessas pessoas, que são dadas de presente para estrangeiros. A gente passa pessoas que vieram daqui, que têm todo um conhecimento, uma formação aqui e que nós estamos cedendo essas pessoas”, lamentou.
Investimento em ciência influencia na economia
“O petróleo do Pré-Sal, que até pouco tempo atrás era considerado inviável e muito caro, hoje representa mais que 50% do petróleo extraído no Brasil. Empresas com protagonismo internacional, por exemplo, na área de compressores, na área de equipamentos elétricos, na área de cosméticos se desenvolveram muito graças à interação com laboratórios de universidades — especialmente, de universidades públicas do Brasil. E esses laboratórios precisam de estudantes. Os estudantes de pós-graduação e também os pós-doutores e os jovens pesquisadores são elementos fundamentais para o funcionamento desses laboratórios. Quando um jovem pesquisador sai do país, é um laboratório que perde uma pessoa preciosa. Mais ainda: está havendo um desestímulo a estudantes para seguirem a carreira de pesquisa. Por exemplo, vários programas de doutorado, inclusive, estão com dificuldade de atrair estudantes”, exemplificou.
“E 2% ainda é menos do que é dedicado aos EUA, à Coreia do Sul, à Europa, em Israel. A China está querendo chegar a 2,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, e o Brasil está em torno de 1%. Certamente, é preciso um entendimento na agenda econômica de que ciência e tecnologia são prioritárias. A fuga de cérebros é composta de jovens que poderiam fazer a diferença nas universidades, nas empresas, ajudando a sociedade brasileira e ajudando, também, a balança comercial do Brasil, agregando valor a essa balança comercial”, finalizou.