Por Alvaro Bianch

Com o crescimento político e eleitoral da extrema direita no mundo, o uso do conceito de fascismo, muitas vezes de maneira inconsistente, tornou-se frequente na imprensa e no debate público. Portanto, definir a ideologia desse movimento é útil para compreender melhor a sua repercussão.

 

O verbete “Fascismo” da “Enciclopédia italiana”, dirigida por Giovanni Gentile em 1932, tinha como objetivo esclarecer a doutrina e a ideologia do movimento. No texto, o fascismo era definido como antiindividualista, antiliberal, antidemocrático e antissocialista. Escrito por Benito Mussolini, ditador italiano e líder do Partido Nacional Fascista entre 1922 e 1943, o verbete ainda defendia a criação de um Estado forte e a transformação da Itália em um Império. Movimentos neofascistas contemporâneos têm reproduzido e atualizado essa ideologia, reivindicando, às vezes explicitamente, os movimentos liderados por Mussolini e Hitler. Por sua vez, partidos eleitorais pós-fascistas procuram evitar essa associação com seus antepassados, mas partilham com eles certas características ideológicas, como o nacionalismo exacerbado e o anticomunismo.

Esta pesquisa discute a existência política da ideologia fascista ao longo da história, e oferece caminhos para interpretá-la e compará-la aos ideais dos emergentes movimentos neofascistas e pós-fascistas.

1 – Qual a pergunta a pesquisa responde?
Como definir a ideologia do fascismo?
2 – Por que isso é relevante?

Com o crescimento político e eleitoral da extrema direita no mundo, o uso do conceito de fascismo, muitas vezes de maneira inconsistente, tornou-se frequente na imprensa e no debate público. Portanto, definir a ideologia desse movimento é útil para compreender melhor a sua repercussão.

3 – Resumo da pesquisa

Estudar a ideologia dos fascismos do entreguerras é a melhor maneira de compreender suas atualizações, ou seja, a emergência e a força de movimentos neofascistas e pós-fascistas no século 21. Afirmar a inexistência de uma ideologia fascista – ou mesmo sua irrelevância – como chave explicativa, bem como alguns autores fizeram, impede a comparação entre os movimentos e seus momentos históricos. Partidos-milícia de massas, camisas coloridas e multitudinários desfiles coreografados parecem ser coisa do passado. As ideias, entretanto, estão aí, para quem quiser ver e estudá-las. É essa ideologia que conecta o fascismo do entreguerras aos novos movimentos neofascistas e pós-fascistas.

Apesar das diferenças, não é difícil encontrar traços ideológicos comuns entre o fascismo de Mussolini (1922) e Fratelli d’Italia (2012), de Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália desde 2022. Ou entre o nazismo de Hitler (1934) e os grupos aceleracionistas contemporâneos que promovem atentados e fazem propaganda terrorista.

Com base na pesquisa e na análise de jornais, revistas e discursos produzidos pelos fascistas, a investigação contestou historiadores que afirmavam que não existia uma ideologia original no fascismo italiano. O confronto com as novas pesquisas sobre o tema permitiu ir além, e definir as características fundamentais dessa ideologia e maneiras de estudá-la.

4 – Quais foram as conclusões?

Para compreender  a ideologia do fascismo é preciso conhecer como os próprios fascistas definiam seus ideais e sua visão de mundo. A ideologia do fascismo é ultranacionalista e estatólatra (que entende o Estado como autoridade absoluta e ilimitada), anticomunista e antidemocrática, e atribui à violência a capacidade redentora de criar uma nova ordem política para promover um renascimento nacional, capaz de criar uma era de paz e prosperidade.

5 – Quem deveria conhecer seus resultados?

Cientistas sociais, historiadores, jornalistas, políticos, sociólogos, pesquisadores de comportamento humano e pesquisadores de história contemporânea.

 

Acesse a pesquisa: “Fascismos: ideologia e história”

 

Alvaro Bianchi é professor titular do departamento de ciência política na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde coordena o Pepol (Laboratório de Pensamento Político). Especializou-se na história do pensamento político italiano e atualmente estuda a ideologia dos fascismos. Foi pesquisador visitante na Columbia University (EUA), Brunel University (Inglaterra), Fondazione Gramsci (Itália) e Università per Stranieri di Perugia (Itália). Publicou “O laboratório de Gramsci” (ed. Zouk, 2018) e “Gramsci entre dois mundos” (ed. Autonomia Literária, 2020).

 

Referências

  • Gentile, Emilio. Le origini dell’ideologia fascista (1918-1925). Bolonha: Il Mulino, 2001.
  • Griffin, Roger. The Nature of Fascism. Londres: Routledge, 1991.
  • Sternhell, Zeev; Sznajder, Mario; Asheri, Maia. Naissance de l’ideologie fasciste. Paris: Fayard, 2002.
  • Tasca, Angelo. Nascita e avvento del fascismo: l’Italia dal 1918 al 1922. Florença: Laterza, 1967.
  • Zunino, Pier Giorgio. L’ideologia del fascismo: miti, credenze e valori nella stabilizzazione del regime. Milão: Il Mulino, 1985.

 

Fonte: Nexo.

 

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