Por Kauê Vieira
Dia 4 de novembro é o Dia Nacional da Favela! A data existe desde o início do século passado, 1900 mais precisamente, período em que surge o Morro da Providência no Rio de Janeiro.
Considerado a primeira favela brasileira, o Morro da Providência foi chamado assim em um documento oficial redigido por um delegado e chefe da polícia da 10ª Circunscrição da comunidade localizada no bairro da Gamboa, na região central do Rio de Janeiro.
Desde então, as favelas cresceram e se tornaram símbolo de resistência negra e pobre, cultura, criatividade e do racismo do Estado, que criminaliza injustamente as pessoas que lá vivem.
Foi assim nas últimas eleições presidenciais, quando a direita e extrema-direita associaram moradores do Complexo do Alemão, no Rio, a bandidos e traficantes.
“Não tinha um policial do seu lado [referência a visita de Lula, candidato da esquerda, na favela] “Não tinha um policial do seu lado, só traficante”, disse, de forma pejorativa em um debate na TV Globo, Jair Bolsonaro, o primeiro presidente desde a redemocratização a não ser eleito para um segundo mandato.
Meu nome é favela!
Diferente do que bradam Bolsonaro e outros, a favela é um espaço de cultura, carente sim, mas de trabalhadores e gente criativa batalhando por igualdade de condições. Seu surgimento data desde a abolição da escravidão, quando os primeiros morros foram povoados em cidades como o Rio.
Último país a abolir a escravidão, o Brasil assinou a Lei Áurea apenas para se livrar das cobranças internacionais, já que não ofereceu condições algumas para que negros e negras tivessem uma vida digna.
Daí veio a expressão “para inglês ver”. Afinal, foi a Inglaterra que pressionou a então colônia portuguesa a acabar com o tráfico de escravizados.
Guerra de Canudos
O crescimento das favelas se deu principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro durante a Guerra de Canudos, em meados de 1897. Combatentes da guerra civil liderada por Antônio Conselheiro improvisaram barracos em um morro com nome inspirado na faveleira, já citada planta comum em regiões do sertão nordestino.
O Morro da Favela, que hoje se chama Providência, nasceu naquele período. O aumento da população se deu ainda pela aposta higienista do Brasil de incentivar o desembarque de imigrantes vindos de países da Europa, sobretudo Itália e Alemanha, além do Japão, na Ásia.
Essas pessoas ocuparam os espaços de trabalho e também regiões centrais até então habitadas pelos negros, que, para se manterem perto das oportunidades de renda – muitas vezes nas mãos de senhores e senhoras de escravizados, subiram os morros.
Um exemplo claro é a Liberdade, em São Paulo, que era um quilombo negro antes de se tornar um bairro habitado majoritariamente pela comunidade asiática.
“Historicamente, sobretudo no Rio de Janeiro, as favelas, assim como os cortiços, surgiram no cenário urbano carioca para suprir o hiato formado pelo déficit habitacional, abrigando, inicialmente, em sua grande maioria, uma massa de pobres que procuravam habitar próximo aos locais onde era oferecido trabalho, principalmente para aqueles que não detinham qualificação profissional.”
O trecho acima é do livro “Do Quilombo à Favela”, de Andrelino Campo, lançado pela editora Bertrand Brasil.
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