“Fazer parte da comemoração de 20 anos da Lei 10.639, criando este selo, materializa o que acredito para o futuro do meu trabalho e da comunidade negra”, afirma a diretora de arte Dora Lia.

 

A Ação Educativa acredita que a formação escolar deve reconhecer e valorizar a história dos povos negros e indígenas. Nesse sentido, celebra os 20 anos da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) pela Lei 10.639/2003 (e posteriormente 11.645/2008) por meio de um ciclo de ações promovidas pelo Projeto Seta – Sistema Educacional Transformador e Antirracista Site externo, iniciativa que reúne as organizações e movimentos: ActionAid, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), Geledés – Instituto da Mulher Negra, e Uneafro Brasil.

Dando início ao ciclo, foi lançado em março deste ano o edital “Selo Comemorativo de 20 anos da lei 10.639” para seleção da arte a ser incorporada à identidade visual do Projeto Seta em todos os materiais da agenda de educação e relações raciais produzidos ao longo de 2023. O trabalho escolhido, segundo os critérios apresentados no edital, foi desenvolvido por Dora Lia, diretora de arte da Agência de Jornalismo Alma Preta.

Dora Lia é da zona norte de São Paulo, atua como designer gráfico e desde a adolescência utiliza seu trabalho como ferramenta de criação para representação e valorização da estética negra. Leia a entrevista com a artista sobre o processo de elaboração do selo.

Por que você escolheu a área de Designer Gráfico?

O meu avô era designer da Imprensa Oficial, na verdade, na época, chamavam de Desenhista Industrial. Eu era pequena e acompanhava os trabalhos dele, mas não se falava muito sobre essa área. Quando ingressei na faculdade, mudaram o nome de Desenhista Industrial para Design Gráfico.

O trabalho do meu avô me fez querer trabalhar com isso. Eu sempre gostei de desenhar, desde pequena, gostava muito de coisas com cores e formas. Por um tempo pensei em estudar Arquitetura, inclusive cursei Design Interiores, eu gostava de pesquisar sobre tipografias, então alguns professores falaram “acho que você tem que fazer Design Gráfico mesmo”, então foi assim que segui por esse caminho.

O selo que você desenvolveu foi o vencedor do edital promovido pelo Projeto SETA. Como foi o processo de inscrição? 

Bom, eu acompanho a Ação Educativa nas redes sociais, no Instagram, foi assim que eu vi o edital. Conversando com uma amiga minha que também é designer, e participou desse concurso, ela me incentivou também a participar.

Como sua relação com a Ação Educativa foi construída?

A primeira vez que eu vim na Ação Educativa, eu era Jovem Monitora Cultural, no Centro Cultural da Juventude, então, eu tive algumas formações aqui no predinho. Mas além do Programa, frequentei o espaço para prestigiar o Estéticas das Periferias, e  participei de um projeto da Ação Educativa chamado Preta Hub.

Qual foi o trabalho que marcou o início da sua trajetória?

É engraçado, porque esse trabalho também foi lá no Centro Cultural da Juventude, quando eu era Jovem Monitora. Eles tinham um calendário e mensalmente abriam para o público contribuir com ilustrações e mostrar sua arte, foi o primeiro trabalho que eu fiz, sobre o Carnaval, que é um tema muito próximo da minha vida. Alguns coordenadores vieram falar “muito legal seu trabalho”, acho que isso me marcou, até hoje eu guardo o folheto. Acho que as pessoas gostam da maneira como eu vou construindo a imagem, da maneira como que eu gosto de dialogar com as pessoas, dentro da arte, criando logo, criando ilustração. Então, aí eu vi que poderia dar certo.

Há quanto tempo você atua nessa área?

Como ilustradora há 7 anos, e como designer há 6 anos.

Quais foram as contribuições da Ação Educativa para sua carreira?

Eu tive formações aqui que ajudaram a aguçar o que eu gostaria de fazer. Eu trabalhava como Jovem Monitora Cultural, tinha acabado de entrar na faculdade, e as trocas que a gente tinha durante as formações do Programa, que aconteciam normalmente na Ação Educativa, me ajudavam muito no repertório das coisas que eu ia construindo na faculdade. Tiveram muitos autores que eu conheci nesses encontros, fiz algumas oficinas, como de Lambe-Lambe, que é uma técnica que eu não conhecia. Então, eu acho que isso me ajudou a criar um repertório, fez com que eu tivesse outros suportes, outras vivências, para ir enriquecendo o meu trabalho.

Você faz parte de algum movimento social? 

Olha, já namorei vários movimentos, nunca fiz parte efetivamente, mas os movimentos sempre estiveram muito próximos. Hoje, o que me inspira, e também não deixa de ser um lugar de luta do movimento negro, é o Coletivo de mulheres negras ilustradoras, fotógrafas e designers, que eu integro com algumas amigas minhas, o Pretas Ilustram. Nesse Coletivo criamos projetos juntas, trocamos, fazemos formações… é o que mais me inspira, assim, pensando em luta coletiva.

Qual é a importância de ter o seu selo escolhido?

Esse foi o primeiro concurso que eu participei e ganhei, fiquei muito feliz, nunca me imaginei participando de concursos. Essa iniciativa me deu um gole de vida, sou mãe recente, tenho um filho de 1 ano, então eu estava naquele processo que toda mãe passa, de recuperar a autoestima, de entender que não estou só vivendo a maternidade, o meu trabalho continua sendo importante e enriquecedor.

O que este selo representa?

O selo é um Adinkra que simboliza a nossa ancestralidade, a história que a gente traz do passado. Através do passado construímos um novo futuro. Isso é o que melhor explica o Adinkra. Além de ter um símbolo africano, é um selo moderno, que consegue facilmente ser identificado, por crianças e adolescentes. Sobre as cores, temos ali um azul, representando a Educação e que é a mesma cor usada pela Ação Educativa, também temos o roxo, que reforça a ideia da nossa ancestralidade e traz ludicidade. A cultura afro-brasileira trata muito da oralidade, por isso o lúdico é importante. Pensando nisso, o amarelo também está ali, trabalhando a criatividade e a alegria, sempre presentes na história do povo preto.

E como foi o processo criativo de elaboração do selo?

Como eu trabalho em uma agência de jornalismo, muitas referências ficam a mão pra mim, estou sempre lendo sobre Educação, então os conceitos para criar isso partiram dessa minha vivência, das trocas que tenho com as pessoas no trabalho, e também de pesquisas que fiz durante o desenvolvimento do selo.

Qual é a importância de contribuir com o marco de 20 anos da lei 10.639?

Algo que me deixa muito feliz é não só ter ganhado esse edital, mas poder contribuir de alguma maneira com esse marco de 20 anos da lei 10.639.

Tudo que eu aprendi, durante o Ensino Fundamental e Médio, sobre a história afro-brasileira, foi dentro de casa, com meus pais, com minha família. Isso estar nas escolas, significa a ampliação do diálogo. Eu acho que a educação é o melhor caminho de combate ao racismo, de tratar sobre a nossa representatividade para o entendimento da nossa cultura.

O selo desenvolvido por Dora Lia estará presente na identidade visual das ações e materiais do Projeto Seta ao longo de 2023. O público pode acompanhar o projeto pelas redes sociais, @acaoeducativa Site externo e @projetoseta Site externo, e site https://acaoeducativa.org.br/ e https://projetoseta.org.br/ Site externo .

 

Fonte: Ação Educativa.

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