Projeto Maria Felipa – Mulheres de Cachoeira: agindo, escutando e revolucionando
Por Eva Bahia e Lúcia Vasconcelos
O projeto “Maria Felipa agindo, escutando e revolucionando em Cachoeira”, idealizado pelo Instituto Búzios e Fundação Casa Paulo Dias Adorno foi selecionado para apoio do Instituto Avon e Fundo Elas com o intuito de mobilizar, e empoderar as mulheres da feira de Cachoeira, situada no Recôncavo Baiano. A histórica feira livre de Cachoeira, promove a sustentabilidade de várias famílias da cidade e dos municípios vizinhos com a predominância das mulheres produtoras rurais, marisqueiras, baianas de mingau e acarajé; comerciantes; prestadoras de serviços; açougueiras, criadoras de animais entre outras, que tiram o seu sustento e de sua família nas atividades da feira.
As mulheres do Conselho da Fundação Casa Paulo Dias Adorno, que tem sua sede nesta cidade, apresentaram ao Instituto Búzios a necessidade de desenvolver ações para modificar a realidade das feirantes e comunidade no sentido de (re) significar suas realidades, constituindo uma ferramenta desarticuladora de ciclos de violências e de combate ao estigma e ao preconceito decorrentes das relações desiguais entre homens e mulheres. Elaboramos uma proposta visando uma transformação das construções arraigadas da “coisificação ou pertencimento” do corpo e ideais da mulher, que violam permanentemente os nossos direitos fundamentais constitucionalmente previstos.
O projeto iniciou com uma pesquisa para o mapeamento e cadastro das mulheres que trabalham na feira passando informações básicas sobre cuidados e orientação para saúde da mulher. Teve como objetivo informar e formar as mulheres para enfrentar o problema multifacetado da violência contra a mulher, confrontado intersetorialmente, utilizando conhecimentos transdisciplinares para instrumentalizar e fazer valer seus direitos em relação a execução das Lei Federais 11.340; 10.788de 24 de novembro e o decreto 7958 de 13 de março de 2013. Introduzir a perspectiva de gênero, Lei Maria da Penha – Mulheres e Direitos; sensibilizar órgãos dos setores públicos e do terceiro setor para formar rede de atendimento a mulher de Cachoeira e municípios vizinhos; como encontrar e acionar as instituições que fazem atendimento básico nas questões da violência contra a mulher.
Cachoeira
Cachoeira fica situada no Recôncavo Baiano, termo utilizado para designar extensões de terra em torno da Bahia de Todos os Santos. A região da cidade de Cachoeira foi desbravada em meados do século XVI, mas o povoado nascido em torno de um engenho de açúcar, só começou a crescer um século mais tarde atualmente é considerada monumento nacional e foi tombada em 1971, pelo Instituto do Patrimônio e Histórico Artístico Nacional, encravadas nesta história está a feira livre de Cachoeira que tão antiga quanto a cidade promove a sustentabilidade de várias famílias da cidade, dos distritos e de várias pessoas dos municípios vizinhos ( Muritiba, Maragogipe; Sapeaçu; Santo Amro; Governador Mangabeira; Cruz das almas; Saubara; São Felix entre outros).
Queremos ecoar a todas as mulheres o nosso direito a ter direitos e inspiradas em Maria Felipa, mulher negra, marisqueira, capoeirista que mobilizou 40 mulheres na queima de 42 barcos das tropas (1822-1823),ancorados na Baía de todos os Santos garantindo a vitória contra Portugal. Contudo foi injustiçada e invisibilizada por séculos por ser uma mulher, por negra e por se pobre. E inspiradas nelas queremos agregar a luta das feirantes que atuam em Cachoeira e São Felix para questionar, criticar, verbalizar, acionar, intervindo e construindo uma ponte para os setores dos órgãos governamentais e não governamentais.
Fonte: Instituto Búzios, Mídia Negra e Feminista nº 113.