Por Arthur L. Coutinho**
“Defendemos, de uma vez por todas, o seguinte princípio: uma sociedade é racista ou não o é.”*
– Frantz Fanon
Frantz Fanon foi um psiquiatra nascido no ano de 1925 na Martinica, país influenciado pela colonização francesa, e entre outras coisas estudou e trabalhou em favor da descolonização de povos africanos. Nas palavras de Lewis R. Gordon, “Fanon é mais conhecido como um revolucionário” (FANON, 2008, p. 11).
Assim, autor dos livros Pele negra, máscaras brancas, Os condenados da terra e Em defesa da revolução africana, além de outros escritos, Fanon foi um pensador que deu grande contribuição aos estudos sobre os efeitos da colonização. Em suas palavras, “todas as formas de exploração se parecem” e “o racismo colonial não difere dos outros racismos” (FANON, 2008, p. 87).
É nesse sentido, a partir das reflexões do autor martinicano, que se iniciaram no mês de agosto as aulas do Curso de Extensão Direitos Humanos, Saúde Mental e Racismo – Diálogos a partir do pensamento de Frantz Fanon, visando fomentar o debate acerca do racismo estrutural e seus impactos na saúde mental da população negra e viabilizar o estudo do pensamento de Frantz Fanon e sua interface com a saúde mental da população negra. O curso foi planejado para acontecer de forma gratuita e tem as aulas transmitidas pelo YouTube, no canal da Defensoria Pública do Estado Rio de Janeiro (assista a aula 1 clicando aqui e aula 2 clicando aqui).
Conforme é possível verificar, até a data de publicação do presente texto, a aula 1, intitulada “Fanon, vida e obra”, já conta com mais 19 mil visualizações no YouTube, e a aula 2, intitulada “Racismos e suas expressões na saúde e na saúde mental”, mais de 6500 visualizações.
Além disso, de acordo com informações coletadas pela organização do curso a partir da aula inaugural, o alcance nacional e internacional tem sido surpreendente: já foram emitidos mais de 3 mil certificados para 26 estados do Brasil e para outros 09 países, a saber: Espanha, Estados Unidos, Bélgica, Portugal, França, Uruguai, Chile, Angola e República Tcheca. Tais números nos levam a perguntar: por que o pensamento de Frantz Fanon é tão relevante e atual?
De acordo com Deivison Faustino, doutor em sociologia, professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e autor da tese “Por que Fanon? Por que agora?: Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil”, há uma disputa em torno do legado e da teoria de Fanon. Isto é, alguns reivindicam um Fanon marxista, outros um Fanon foulcautiano, outros um Fanon lacaniano e outros ainda um Fanon sartriano, mas poucos estariam dispostos a considerarem Fanon a partir de seus próprios pressupostos.
Portanto, o Curso de Extensão Direitos Humanos, Saúde Mental e Racismo – pensado e coordenado por Rachel Gouveia, professora doutora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e por Patricia Magno, Defensora Pública do Estado do Rio de Janeiro e doutoranda em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – tem exatamente o propósito de pensar as grandes questões relacionados aos direitos humanos, saúde mental e racismo, assim como as possibilidades de incidência concreta, em especial nas instituições do sistema de justiça, tendo as contribuições de Frantz Fanon, como referenciais.
Era difícil imaginar que no ano de 2020 o Brasil e o mundo seriam surpreendidos pelos efeitos de uma pandemia de Coronavirus, quando todos os tipos de relações passaram a ser repensadas e adaptadas para um contexto de restrições sociais e de distanciamento físico. Mesmo assim, entristece, mas não surpreende que a parcela mais severamente afetada pelas consequências da covid-19 seja moradora das periferias e negra. Ao mesmo tempo, causa indignação saber que o tamanho da riqueza dos super-ricos brasileiros cresceu ainda mais no período da pandemia (ver mais aqui).
Sendo assim, o pensamento de Frantz Fanon é relevante e atual porque o mundo ainda respira ares de dominação e de exploração do homem sobre o homem. Por isso, conforme declara Fanon, “defendemos, de uma vez por todas, o seguinte princípio: uma sociedade é racista ou não o é. Enquanto não compreendermos essa evidência, deixaremos de lado muitos problemas” (FANON, 2008, p. 85).
Por fim, fica o convite para a participação no curso que acontece até o dia 15 de setembro: com transmissão em tempo real, de forma gratuita, com intérprete de libras e com a participação de professores doutores de diferentes áreas do conhecimento.
Referências
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.
FAUSTINO, Deivison M. “Por que Fanon? Por que agora?”: Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil. 2015. 252 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2015.
*Título em referência à tese de doutorado de Deivison Faustino.
** Arthur L. Coutinho, doutorando em Serviço Social pela UFRJ e membro da comissão organizadora do Curso de Extensão Direitos Humanos, Saúde Mental e Racismo – Diálogos a partir do pensamento de Frantz Fanon.